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ELIANE CANTANHÊDE
O ano que vai começar
BRASÍLIA - Com os ex-grevistas no poder e a economia praticamente estagnada, as greves perderam a graça
e muito do seu poder de pressão. Mas
não morreram.
Lula é o maior líder sindical da história do Brasil e foi no rastro desse
movimento que fez carreira política,
disputou eleições e virou presidente
da República. Deve, pois, pressentir o
que vem, ou pode vir, por aí.
Seu governo já conviveu, direta ou
indiretamente, com greves de servidores federais, da Polícia Federal, da
Justiça de São Paulo, de metalúrgicos
e esta última, dos bancários, que durou um mês até sexta-feira.
Ninguém se apavorou nem deu
muita bola, não houve manifestações
emocionantes e o retorno para os grevistas não foi tanto assim. Ministros
como Luiz Gushiken (Comunicação
de Governo) e Olívio Dutra (Cidades)
honraram suas próprias origens e
apoiaram a greve dos bancários.
Se alguém perdeu foram, por exemplo, os usuários da Justiça paulista,
que nunca funciona direito mesmo, e
os correntistas de bancos, que hoje
têm a internet e os caixas eletrônicos.
A questão é que a economia dá sinais de reaquecimento. E isso significa duas ameaças: aumento de inflação, sempre usada para manter juros
estratosféricos, e aumento de emprego, renda e... demandas sociais.
Por enquanto, Lula e o PT só pensam naquilo: a eleição de Marta Suplicy em São Paulo, que está difícil, e
dos demais petistas e aliados que disputam o segundo turno. Mas, depois,
é bom voltarem os olhos para o país
real, o da rotina, o dos cidadãos, o
dos grevistas em potencial.
Na sexta-feira, os funcionários da
Petrobras recuaram da decisão de fazer uma greve de cinco dias, mas demonstraram claramente que estão
prontos para eventualidades. Não
são os únicos.
Se 2004 é o ano das eleições, 2005
pode virar o ano das greves. Tudo depende da mobilização dos diferentes
setores trabalhistas e também da economia e do jeitão PT de governar.
Lula vai ter um olho no passado e outro no futuro. O ex-líder sindical agora é candidato à reeleição.
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