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PT COM JUROS
Os sinais emitidos pelo PT ao
longo de toda a campanha
eleitoral, reafirmando que Lula manteria compromissos com a responsabilidade fiscal e financeira, ganharam um reforço que, se não é definitivo, ao menos é emblemático.
O coordenador da equipe de transição do novo governo, Antônio Palocci Filho, afirmou que reduzir os juros
é uma decisão que não se toma por
"ato de vontade".
A declaração é a primeira resposta
mais firme e clara às expectativas de
que o novo governo estaria voltado
aos anseios do "Brasil consumidor"
e do "Brasil produtivo".
Como se não bastasse, Palocci saiu
em defesa da atual política econômica, pois "não se muda a política econômica jogando fora o que está feito" já que "o processo econômico é
muito delicado, não podemos abandonar instrumentos".
Nada há de argumentação técnica
ou racionalidade econômica nessas
afirmações, apenas uma retórica que
mal disfarça a adesão à crença conservadora de que tudo deve continuar
como está para que a situação não
piore ainda mais.
Rapidamente o PT se converte de
crítico impiedoso da política e do
modelo econômico em mero gestor
de algo que, por razões mal esclarecidas, não pode ser modificado. O
coordenador da equipe de transição
nem sequer se dá ao trabalho de formular uma estratégia. Parece uma
transição rumo ao mesmo.
É fato que esse tipo de comportamento em políticos de esquerda que
chegam ao poder não é uma novidade na história contemporânea. O PT,
ao que parece, não será exceção.
Ao mimetizar o discurso conservador, Palocci produz algo pior que o
original. Nos últimos anos, a redução dos juros foi adiada sempre em
nome de alguma justificativa. Num
momento, dependia de reformas
econômicas. Em outro, era invocado
o ajuste fiscal. Em horas de aperto
cambial, a queda nas taxas dependeria da obtenção de expressivos superávits no comércio exterior.
Como pano de fundo, sempre pairou a tese de que a inflação é traiçoeira. Ou seja, somente se as taxas inflacionárias ficassem baixas por muitos
anos seria possível reduzir as taxas
de juros. Reformas ocorreram, o
ajuste fiscal foi significativo, o país
voltou a gerar megassuperávits no
comércio exterior e a inflação, mesmo depois de choques cambiais, foi
contida ao custo de contração econômica e desindexação de salários.
Mas as taxas de juros foram mantidas em níveis cronicamente estratosféricos. Agora Palocci simplesmente
reitera, de modo genérico, senão tautológico, que "ou se criam condições
para baixar os juros ou eles não podem ser baixados".
Mais do mesmo, essa fórmula resume o que começa a se delinear como a política econômica de um governo eleito em nome da mudança.
As frustrações poderão surgir com
velocidade e intensidade comparáveis à da adesão aparentemente irrestrita do PT aos dogmas do pensamento econômico conservador.
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