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ELIANE CANTANHÊDE
"Por que não eu?"
BRASÍLIA - Se Benedita da Silva virar ministra de alguma coisa, Marina
Silva terá todo o direito de questionar: "Também sou mulher, de origem humilde e petista de primeira
hora. Por que não eu?".
Se Tarso Genro for convidado para
o ministério, o bigodudo Olívio Dutra vai poder perguntar: "Sou fundador do partido, sou governador e
também gaúcho. Por que não eu?".
Se José Genoino for indicado para
um ministério ou um bom cargo no
Planalto, será a vez de Jaques Wagner indagar: "Também sou deputado
de primeira linha e fiz bonito na eleição para o governo (no caso, da Bahia). Por que não eu?".
Se Itamar Franco (sem partido) e
José Alencar (PL) vêm sendo sondados para bons cargos pelo presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, Nilmário Miranda no mínimo deve pensar: "Além de político de Minas, eu
sou do PT. Por que não eu?".
Se Antônio Palocci for anunciado
ministro (é cotado para Planejamento ou Fazenda) e Vicentinho ganhar
um cargo robusto, José Eduardo Dutra poderá lembrar: "Também tenho
língua presa! Por que não eu?".
Além dos cargos do Planalto, reservados para os íntimos do presidente,
há todos os ministérios, o segundo escalão federal, as presidências e as diretorias de estatais e de órgãos poderosos (como Petrobras e BNDES). No
sufoco, as embaixadas.
São mais de 20 mil vagas em todo o
país, e cinco, 10, 20 candidatos para
cada uma, do PT, do PL e dos demais
aliados, de primeira e de última hora.
Com esse desemprego!
Nesses momentos, a perda de governos bem fornidos como os de São
Paulo, Rio e Minas é ainda mais lamentada. A pressão pelos cargos federais poderia ser diluída pelos Estados. Seria um alívio para Lula.
O presidente eleito vai precisar de
muitas horas de sossego e de reflexão,
como hoje, em que se move entre a
Granja do Torto, conhecendo o novo
lar com Marisa, e o Alvorada, ouvindo as agruras do poder de FHC.
Lula vai ter de aprender, por exemplo, a dizer "não": "Porque não".
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