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CARLOS HEITOR CONY
O bom rapaz
RIO DE JANEIRO - Houve um imperador romano que foi considerado a
delícia do gênero humano. Não me
lembro se foi um puxa-saco da corte
ou o próprio imperador que a si mesmo se chamou de delícia do gênero
humano.
Tampouco me recordo o que ele fez
ou deixou de fazer para merecer tão
deliciosa classificação. Houve um rei
da França que chegou perto, tornando-se "o bem-amado". Stálin foi o
guia genial dos povos, e Mussolini,
numa sociedade machista, era louvado por causa de seus testículos, que a
plebe julgava enormes.
Um português, obviamente chamado Manuel, ficou venturoso porque
em seu reinado o Brasil foi descoberto.
Houve também um Orlando, o furioso, e um Átila, flagelo de Deus.
Sem esquecer Pepino, o breve, e um
barba-roxa que talvez seja o modelo
mais próximo de nosso barbado presidente eleito, apesar de sua barba
não ser roxa mas grisalha. Pai dos
pobres foi Getúlio Vargas, camarada
foi Khruschov, e companheiro até hoje ainda é Fidel Castro.
Citei exemplos contraditórios de
homens que tiveram poder e fico pensando no estranho apetite que move
tanta gente para, no fim, ser chamado de Breve, Barba-Roxa ou mesmo
Delícia do Gênero Humano.
Mas o campeão em matéria de nomes -e um dos mais poderosos- foi
aquele anjo que promoveu uma revolta contra o Todo-Poderoso. Parece
que foi batizado -se é que batizavam os anjos no paraíso- como
"aquele que transporta a luz", ou seja, Lúcifer. Belo nome, que não combinava com sua função. Daí que passou a ser Demônio, Satanás, Diabo,
Mefistófeles.
E, segundo Guimarães Rosa, que
pesquisava nomes e apelidos, o mesmo Lúcifer foi chamado de Não-Se-Diz, Caolho, Coisa-Ruim, Leva-e-Trás, O Que Não Ri e Rapaz.
Não gostei quando chamaram o
nosso presidente eleito de bom rapaz.
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