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DEMAGOGIA RURAL
Em mais um de seus conhecidos
acessos populistas, o governador do Paraná, Roberto Requião
(PMDB), colocou-se no centro de um
ato de apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
em Curitiba. Discursou a favor da invasão de propriedades, fez acusações
à imprensa, prometeu a realização de
um festival de música pró-reforma
agrária e, no final, tirou fotos e distribuiu autógrafos aos presentes.
Comportamentos demagógicos e
irresponsáveis como esse evidenciam o quanto de manipulação política tem cercado o movimento. Se,
no caso de Requião, o ardil político é
claro, no da Comissão Pastoral da
Terra, o que se observa é o encontro
do coletivismo de esquerda com o
distributivismo cristão e o anticapitalismo retrógrado numa pasta ideológica que não vê limites à ocupação de
terras produtivas e nivela o agronegócio ao latifúndio improdutivo como grande vilão do conflito agrário.
Não há nenhuma dúvida de que
existe uma questão agrária a ser
equacionada, que se traduz na pauperização de populações rurais num
país em que o processo histórico não
repetiu experiências de reformulação
da estrutura fundiária ocorridas em
outras nações. Não será, contudo,
com ações demagógicas como as do
governador do Paraná ou com fantasias pré-capitalistas como as da Pastoral da Terra que o país poderá levar
essa situação a bom termo.
Embora tenha características próprias, o problema dos sem-terra encontra paralelo no das massas que se
concentram nas periferias das grandes cidades. A economia do país e as
políticas públicas têm falhado em
promover a inclusão social, o que se
faz com crescimento, emprego, educação e distribuição de renda.
Trocar, no entanto, a via do debate
institucional e das ações planificadas
pelo investimento na radicalização
desenfreada -a ponto de se invadir
uma fazenda produtiva e derrubar
eucaliptos sob a alegação de que não
servem como alimento- é apostar
no caos e no obscurantismo.
A nobre simpatia pelos mais fracos
pode levar à ilusão onipotente de que
todos os meios são justificáveis para
atingir uma mítica justiça final. Talvez isso ajude a explicar certas atitudes da direção do MST e a complacência com que o governo vem tratando o movimento a despeito de
suas afrontas à lei. Involuntariamente, o contribuinte brasileiro tem até
mesmo sustentado algumas dessas
ações inaceitáveis, pois, como já foi
mostrado em reportagens desta Folha, artifícios têm sido usados para
financiar a organização do movimento com dinheiro público.
Quanto ao governo, cujas promessas de promover uma "reforma agrária do século 21" ainda não produziram nenhum fruto, não se digna sequer a cumprir a medida provisória
que congela, por dois anos, o processo de desapropriação de áreas invadidas. Até mesmo um memorando do
Incra chegou a ser produzido para
ensinar aos superintendentes da autarquia maneiras de burlar a lei. É
uma situação grave e intolerável.
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