São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Mais do que nunca, educação!

Reunindo dados de vários estudos realizados ao longo de 1980-2000, o IBGE concluiu que, na área social, o Brasil andou para trás. Os números são dramáticos. No período, perdemos cerca de 2 milhões dos nossos irmãos em mortes violentas -acidentes de trânsito e homicídios.
Só em homicídios foram cerca de 600 mil perdas! No cenário mundial, o Brasil é tido como uma nação pacífica. No cenário interno, é, sem dúvida, um país em estado de guerra. Basta ver a escalada da guerrilha urbana no Rio de Janeiro e das guerrilhas rurais nas propriedades do campo. Foi chocante a fotografia exibida em "O Estado de S. Paulo" de 15/4 na qual um pobre fazendeiro, isolado em sua própria casa, teve de levantar trincheiras para se defender dos tiros dos que, não satisfeitos com a invasão da propriedade, destroem bens e vidas humanas. Quem investe em um país onde não se respeita o direito de propriedade?
É claro que, por trás de tudo, há uma causa muito séria que é o baixo nível educacional do nosso povo. Em pleno século 21, o Brasil tem ainda 15 milhões de pessoas (com mais de 15 anos de idade) que não sabem ler nem escrever.
Mais grave é saber que 32 milhões de brasileiros são "analfabetos funcionais", ou seja, não dominam as operações aritméticas e não entendem o que lêem. E entre os que estão na escola, dois terços estão defasados por terem iniciado a escola tardiamente ou por terem sido reprovados uma ou mais vezes; no Nordeste, isso chega a 84%!
Sem educação não há esperança. Os próprios dados indicam isso. As pessoas pouco educadas amargam longos períodos de desemprego na atual sociedade de conhecimento, cujos trabalhos exigem mais neurônios do que músculos.
A educação é a mola do progresso. A sua falta é a causa do atraso. Vejam este dado: as meninas que têm menos de oito anos de estudo são as mais atingidas por gravidez indesejável e também as que mais perdem seus filhos por doenças banais. É isso mesmo. A mortalidade dos filhos de mães pouco educadas é mais do que o dobro das que têm mais educação.
Os dados do IBGE revelam que, em 2002, havia cerca de 300 mil crianças perambulando pelas vias públicas em completo abandono, expostas ao crime e à prostituição infantil. Isso em um país tão rico como o Brasil.
Não, ninguém pode se conformar com tamanha vergonha. Com tanta terra, água, sol e recursos naturais, o Brasil não deveria exibir tamanha deterioração social.
Temos de virar esses números, especialmente os da educação, que é fundamental para sonharmos com qualquer tipo de espetáculo, seja ele de crescimento, de progresso social, de respeito mútuo ou de paz nos lares.
Nesse campo, é imperioso manter a continuidade e a persistência de trabalho, pois nada acontecerá por milagre, de um dia para outro. Temos de ser ousados e corajosos. Precisamos cortar na carne tudo o que for necessário para educar bem os professores, equipar adequadamente as escolas e garantir bolsas de estudo para as crianças que abandonam os estudos por motivos econômicos. Essa é a única maneira de garantir dados diferentes para o IBGE publicar em 2025.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Solução final
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.