São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Solução final

RIO DE JANEIRO - Semana de lascar esta que passou. O MST cumprindo o que prometeu neste abril que considera vermelho, vermelho também aqui nas bandas do Rio, com a guerra da Rocinha, um enorme naco da cidade paralisado pelo medo, sem sair de casa, as ruas desertas em quase toda a zona sul, escolas fechadas e ainda por cima o pranto de arrependimento do Waldomiro Diniz, pedindo desculpas pelo que fez.
Como Jack, o Estripador, vamos por partes: o MST não é novo, sua causa é velha, vem desde o tempo das capitanias hereditárias, que criaram o latifúndio e mantiveram o campo em regime feudal até agora.
A guerra na Rocinha também não é nova, formalizou-se nos últimos anos, em batalhas menores, distribuídas nas favelas também menores do Rio. Mas a questão é a mesma: briga de bandos nos morros, vítimas de todos os lados, impotência policial para deter os focos de violência, que se reproduzem mecanicamente, uma célula morrendo, mas dando nascimento a outra, tal como na lei de Mendel, se não estou enganado.
E, por cima de tudo, os dados do IBGE sobre a violência em geral, o número de crimes e assassinatos, que cresceu mais de 100% nos últimos anos.
Não adianta discutir as causas. No fundo, sabemos que as condições miseráveis, o desemprego brutal e os guetos urbanos geram violência, sempre geraram violência ao longo da história, em todos os quadrantes da Terra. Enquanto a sociedade humana não encontrar um jeito de eliminar a causa, o efeito continuará, cada vez mais devastador.
Numa hora dessas, o que sobra é mesmo a solução proposta pelo presidente da República: exorcizar o Diabo, apelar para Deus, roer unhas, fazer figa com os dedos e torcer pela vitória do Corinthians.


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