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ELIANE CANTANHÊDE
Tratamento de choque
BRASÍLIA - É uma questão de mais tempo, menos tempo, mas o Exército
vai acabar entrando de alguma forma no combate ao crime organizado
no Rio. Devagar e sempre, o governo
Lula vem discutindo essa possibilidade, articulando consensos internos e
preparando o terreno jurídico para
permitir uma operação, digamos,
sem dor. Ou seja: que seja aceita politicamente dentro e fora do governo.
Querer, ninguém quer. É claro que
a decisão é dificílima, em especial
porque se trata de um governo que se
diz de esquerda, de um governo do
PT, de um governo Lula. Botar o
Exército na rua tem uma conotação
ruim e gera uma natural polêmica.
Além dos riscos.
Mas não tem muito jeito com essa
rotina de anos e anos de invasões das
favelas, de guerras de quadrilhas, de
mortes de civis à toda hora. A situação, apesar dos discursos oficiais tanto do governo federal como do governo do Rio, está evidentemente fora de
controle. E não é de hoje.
Então, que seja o menos drasticamente possível, obedecendo regras
básicas: 1) o pedido tem de partir dos
governadores Garotinho; 2) o comando da operação, seja ela qual for,
terá de estar nas mãos do próprio
Exército, jamais do governo estadual;
3) não haveria uma ocupação de
morros e favelas com o Exército administrando o inadministrável; 4) as
ações seriam pontuais, rigorosamente delimitadas no tempo e no espaço,
com caráter de presença e inibição,
não de ataque. Por motivos óbvios.
Lula deu sinal verde para a avaliação de prós e contras, o reticente
Márcio Thomaz Bastos passou a ouvir todo mundo a respeito, o diplomático José Viegas vem consultando
os comandos militares. Ninguém fala
nada abertamente, mas a questão é
discutida intensamente.
O fim do regime militar é razoavelmente recente e os traumas são de todos os lados. Mas não dá para continuar fingindo que a violência do Rio
vai ser resolvida com soluções tradicionais. Nem cruzar os braços enquanto a distribuição de renda não
vem. A questão é urgente. E de vida
ou morte.
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