|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Semelhantes e medíocres
BRUXELAS - A troca de elogios entre o ministro Antonio Palocci e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não deveria surpreender ninguém. Estreitaram-se de tal forma as
margens de manobra para políticas
diferentes que é normal haver mais
semelhanças que divergências entre
um governo e seu sucessor, embora o
sucessor venha da oposição.
A Espanha, o país desenvolvido que
está menos distante do Brasil para
efeitos comparativos, é um exemplo
claro: o novo governo, nominalmente
socialista, não fará uma política econômica diferente da de seu antecessor conservador.
José Luis Rodríguez Zapatero, o novo presidente do governo espanhol,
teve o bom senso de dizer que não vai
"começar do zero", ou seja, reescrever
tudo o que seu antecessor fez.
As diferenças entre os dois partidos
ficam mais no campo dos valores do
que na esfera econômica.
Essa realidade não obriga, no entanto, a aceitar que seja impossível
tomar determinadas iniciativas só
porque são ousadas.
Thomas Skidmore, talvez o mais célebre "brasilianista", diz, como quem
não quer nada: "A Argentina é um
caso interessante a estudar, porque
seu fracasso econômico se deu ao seguir as recomendações ortodoxas de
ligar sua moeda ao dólar e, agora,
parece estar em posição forte para
negociar com os credores". O "agora"
é obviamente o pós-calote.
Christine Kearney, da tricentenária
Universidade Brown (EUA), por sua
vez, lembra que "controle de capitais
em países em desenvolvimento pode
ser uma solução, e até mesmo o FMI e
o Banco Mundial estão vindo a aceitar a necessidade de alguma forma
de controle".
A economista diz que, "ironicamente", o interesse norte-americano
e de países riscos em limitar o financiamento do terrorismo internacional "pode trazer exatamente o tipo
de regulação do movimento internacional de capitais que beneficiaria
países em desenvolvimento".
O problema não está, pois, nas semelhanças em si, mas na mediocridade em que se assemelham.
Texto Anterior: Editoriais: NOVAS BACTÉRIAS Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Tratamento de choque Índice
|