São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Semelhantes e medíocres

BRUXELAS - A troca de elogios entre o ministro Antonio Palocci e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não deveria surpreender ninguém. Estreitaram-se de tal forma as margens de manobra para políticas diferentes que é normal haver mais semelhanças que divergências entre um governo e seu sucessor, embora o sucessor venha da oposição.
A Espanha, o país desenvolvido que está menos distante do Brasil para efeitos comparativos, é um exemplo claro: o novo governo, nominalmente socialista, não fará uma política econômica diferente da de seu antecessor conservador.
José Luis Rodríguez Zapatero, o novo presidente do governo espanhol, teve o bom senso de dizer que não vai "começar do zero", ou seja, reescrever tudo o que seu antecessor fez.
As diferenças entre os dois partidos ficam mais no campo dos valores do que na esfera econômica.
Essa realidade não obriga, no entanto, a aceitar que seja impossível tomar determinadas iniciativas só porque são ousadas.
Thomas Skidmore, talvez o mais célebre "brasilianista", diz, como quem não quer nada: "A Argentina é um caso interessante a estudar, porque seu fracasso econômico se deu ao seguir as recomendações ortodoxas de ligar sua moeda ao dólar e, agora, parece estar em posição forte para negociar com os credores". O "agora" é obviamente o pós-calote.
Christine Kearney, da tricentenária Universidade Brown (EUA), por sua vez, lembra que "controle de capitais em países em desenvolvimento pode ser uma solução, e até mesmo o FMI e o Banco Mundial estão vindo a aceitar a necessidade de alguma forma de controle".
A economista diz que, "ironicamente", o interesse norte-americano e de países riscos em limitar o financiamento do terrorismo internacional "pode trazer exatamente o tipo de regulação do movimento internacional de capitais que beneficiaria países em desenvolvimento".
O problema não está, pois, nas semelhanças em si, mas na mediocridade em que se assemelham.


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