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CRISE DE CONFIANÇA
As esperanças de recuperação
da economia mundial após a
guerra do Iraque estão definitivamente superadas. Sinais negativos se
acumulam, tais como a queda do dólar e os indicadores de contração econômica na Alemanha, que também
renegou abertamente o compromisso com a meta de ajuste fiscal da
União Européia. No Japão, as expectativas de reforma econômica e recuperação da atividade continuam pequenas. A situação se agravou com a
recente epidemia de pneumonia.
A face mais visível da crise tem um
nome: volatilidade cambial das moedas de referência. Ou seja, não há nenhuma perspectiva de controle pelos
governos das principais economias
industrializadas do planeta do curso
das suas taxas de câmbio. O mesmo
vale para sua capacidade de promover o crescimento.
A volatilidade das moedas, sinônimo de fragilidade das políticas econômicas, foi por muito tempo associada a economias endividadas no
Terceiro Mundo. O fenômeno agora
engolfa o dólar, o euro e o iene.
O euro sofreu uma valorização de
25% em relação ao dólar num ano.
Considerando uma cesta de moedas
dos principais parceiros comerciais
dos Estados Unidos, o dólar perdeu
mais de 15% do seu valor. A libra caiu
ao seu patamar mais baixo nos últimos seis anos.
Além das dificuldades enfrentadas
pelos governos para encontrar algum rumo, as empresas globalizadas enfrentam maiores custos e, portanto, têm a rentabilidade reduzida.
Nesse contexto, os investidores
permanecem cautelosos e vai sendo
confirmada a hipótese de um longo
período de baixo dinamismo na economia mundial. Os escândalos de
corrupção em instituições financeiras também abalou Wall Street.
Erraram economistas, governantes
e empresários que acreditaram nas
virtudes do mercado como mecanismo automático de ajuste.
Até os anos 80, a volatilidade das
principais moedas do mundo era vista com bons olhos. Afinal, propiciava novas oportunidades para a especulação financeira.
Os investidores globais defendiam
a mais ampla desregulamentação
para que os próprios mercados dessem conta da instabilidade.
Nos últimos anos, no entanto, sucederam-se casos catastróficos de
quebras financeiras exatamente nos
novos mercados que supostamente
conduziriam o sistema global a um
novo equilíbrio.
As diversas crises com epicentro
em mercados de derivativos foram o
estopim de um colapso epidêmico
de instituições financeiras, de empresas e de governos em todos os
quadrantes do planeta.
Tais mercados obviamente não
deixaram de existir, mas os custos da
proteção contra a instabilidade cambial subiram. Sem confiança no
equilíbrio que supostamente surgiria, os mercados acabam por produzir ainda mais incerteza. Aumentam
os custos financeiros e a disposição a
investir se reduz, mesmo num contexto de baixas históricas das taxas
de juros nas principais economias
industrializadas, em especial no Japão e nos Estados Unidos.
O risco de deflação, um indicador
clássico de fragilidade crônica, é cada vez maior nos EUA (no Japão, essa é a realidade há três anos). A
União Européia, que resiste em cortar os juros, coloca em risco o mais
ambicioso projeto de integração econômica da história contemporânea.
Sem governos capazes de agir eficazmente nem mercados eficientes a
ponto de engendrar uma reversão da
crise, a economia mundial mergulha
num quadro preocupante.
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