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CARLOS HEITOR CONY
Novo poder
RIO DE JANEIRO - A corrupção policial e a incompetência dos governantes, os atuais e os anteriores, são
apontados por entendidos e por não-entendidos como responsáveis pela
onda de violência urbana que atravessamos e que tem como núcleo e,
mais do que núcleo, como símbolo, o
Rio de Janeiro.
Evidentemente que há corrupção
na polícia e as autoridades ainda não
encontraram uma solução para combater o crime, seja o organizado, seja
o desorganizado.
Há a convicção generalizada de
que a causa de nossos problemas no
setor se deve ao tráfico de drogas. Parece que, sim, é o iceberg visível que
ameaça afundar o Titanic do Estado.
Mas os recentes episódios nas faculdades e colégios cariocas indicam um
novo dado da questão. Traficantes
ou não, uma vanguarda de marginais colocou-se contra a sociedade
organizada, não para obter a vantagem imediata da venda das drogas
ou do roubo, mas apenas para firmar
uma presença, um tumor maligno no
tecido social.
No início, ao mandar fechar ruas e
casas comerciais, poderia parecer
uma jogada de marketing dos traficantes. Agora não. Eles assustam o
que a classe média tem de mais valioso, que é a educação média e superior
dos filhos daquilo que os comunistas
chamavam de "pequena burguesia".
Nos últimos incidentes envolvendo
colégios e faculdades, não houve roubo, a estudante baleada foi vítima de
uma bala perdida, havendo dúvida
se o disparo foi de arma dos bandidos
ou da polícia.
E outros casos virão, planejados para serem o mais incruentos possíveis,
mas cuja finalidade é exibir o poder
de fato de uma vanguarda que, interessada inicialmente em lucrar com o
crime, aos poucos está criando um fato novo ao qual, pouco a pouco, estamos nos habituando
Um teórico marxista dos velhos
tempos classificaria o fenômeno como revolucionário. É um exagero,
mas não está longe da verdade.
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