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ELIANE CANTANHÊDE
Lula tem medo de quê?
BRASÍLIA - O governo tomou posse, os juros subiram, as reformas foram
apresentadas, discute-se a "fase 2" da
economia, e eu já estou tirando férias
a partir de amanhã. Mas, até hoje,
como registrou o jornal "Valor" na
sexta-feira, Lula não deu uma só entrevista para os jornais brasileiros
-nem coletiva, nem exclusiva.
Depois de eleito, só falou com exclusividade à Globo (por que será, hein?)
e para o "Washington Post" (deve ser
a política externa "ativa"). E, depois
da posse, fala pelos cotovelos, mas em
solenidades públicas e sem direito a
perguntas incômodas.
Vai ver ele quer evitar perguntas fúteis. Sobre a cópia escrita e acabada
do governo FHC na economia. Irritante. Sobre o Fome Zero, que continua um amontoado de boas intenções. Chatice. A definição da política
industrial. Maçante.
O silêncio de Lula, pois, é providencial. Não só para calar o presidente,
mas para calar perguntas que não
querem calar. Repórteres não entendem que tudo mudou e tentam tratar
este como os demais governos: querendo saber umas coisas e tentando
entender outras. Inconvenientes.
Afora ironias, falta a Lula, ao núcleo de poder político e à equipe de
comunicação um entendimento elementar: os jornalistas perguntam o
que milhares de pessoas querem saber. Em geral, não responder a perguntas deles é não responder às da
sociedade.
Depois da eleição de outubro do
ano passado, os neopoderosos empinaram o nariz e calaram. "Ordem do
chefe", alegavam. Aconteceu o de
sempre: com o tempo, passaram a tomar a iniciativa de telefonar para
quem antes não atendiam.
Agora, falta Lula. Acha que lucra
mais com discursos transmitidos pelas tevês do que tendo de responder a
perguntas -ou prestar contas- para esses enxeridos da imprensa.
Lula impressiona favoravelmente,
mas tem muito o que aprender. Por
exemplo: perguntar não ofende, calar
é que é ofensivo.
Até a volta!
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