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CLÓVIS ROSSI
Expulsem Alencar
SÃO PAULO - Afinal de contas, manter juros altos é fundamental para o
controle da inflação, como diz o presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles, ou é "jogar R$ 80 bilhões
pela janela", como prefere o vice-presidente José Alencar?
Os dois são, digamos, neolulistas.
Alencar foi caçado para candidato a
vice-presidente no pressuposto de que
sua adesão a Lula reduziria a histórica resistência dos setores empresariais ao candidato do PT.
Vistas as coisas em perspectiva, foi
uma caça inútil. Lula tornou-se o
mais novo herói do empresariado,
dos liberais e dos organismos internacionais por fazer exatamente o
oposto do que prega Alencar.
Já Henrique Meirelles consta ter sido apenas a quinta ou a sexta opção
do PT para ocupar o Banco Central
depois da recusa de vários nomes
com perfil assemelhado (alguns dos
quais, a bem da verdade, imensamente piores). Mesmo assim, virou
"lulista" desde criancinha.
Qual é a posição do próprio presidente sobre juros? "Sentiu-se violentado", diz-se no coração do Planalto,
quando cedeu aos argumentos de
Meirelles e concordou com o primeiro dos dois aumentos decididos no
seu governo.
Deve ter gostado, porque concordou com um segundo aumento.
Só depois é que começou a emitir
crescentes sinais de que não quer
mais violências contra o seu íntimo
na forma de um terceiro aumento.
Para a atividade econômica, não
basta. É preciso que os juros caiam,
não que fiquem onde estão.
Se, no entanto, Meirelles insistir em
que a inflação ainda é alta e que, portanto, os juros devem ficar como estão, o que fazer com Alencar?
Não dá para submetê-lo a uma comissão de ética porque é do PL, não
do PT. Não dá para chamá-lo de radical e, com isso, tratar de desqualificá-lo, porque a imagem do vice é da
mais pura bonomia (nem cabelo tem,
quanto mais a cabeleira do Babá).
No entanto expõe com mais dureza
as contradições entre o que foi o PT e
o que é o seu governo do que os mal
chamados radicais.
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