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ANTONIO DELFIM NETTO
Produto/ Capital
A HISTÓRIA do Brasil posterior à Segunda Guerra Mundial mostra: 1º) que só dois
fatores, a falta de energia ou a incapacidade de sustentar as importações, podem abortar o crescimento
econômico; 2º) que o crescimento
depende de um "estado de espírito" produzido pela ação de um Estado-indutor, apoiado em instituições capazes de cooptar e de dar
confiança aos empresários que tomam o risco de novos investimentos; 3º) a necessidade de uma enérgica ação do Estado-indutor (não
do Estado-produtor) na expansão
da infra-estrutura e 4º) que, uma
vez estabelecidos os objetivos da
política de desenvolvimento pelo
Estado-indutor, o mecanismo
mais eficiente para a alocação dos
recursos sempre escassos é o funcionamento desimpedido dos
mercados.
Não existe nenhuma dúvida sobre a ligação positiva entre a taxa
de crescimento do PIB no médio e
longo prazos e a taxa de investimento líqüido medido em relação
ao PIB. Na pregressa reencarnação
dos economistas (na Idade Média
do sonho do "planejamento sem
preços"), essa relação se chamava
"Produto/Capital", e acreditava-se
que ela era relativamente constante, em torno de 2,8 a 3,0.
A história mostrou que a crença
era infundada. O avanço da tecnologia incorporada no "estoque de
capital" altera sua produtividade; a
mão-de-obra "aprende fazendo" o
que, combinado com o aumento da
educação, aumenta a sua produtividade; a ação do fator mais importante no processo produtivo -o
empresário- também aprende a
usar melhor os sinais dos preços do
mercado para coordenar o uso
mais eficiente do capital e do trabalho. Em compensação, há "descoordenações", produzidas pelos
fatos da macropolítica, pela baixa
qualidade das instituições e seu
mau funcionamento, pela interferência exagerada da regulação no
sistema de preços e no mercado de
trabalho, pelo excesso e má qualidade do sistema tributário etc., que
geram ineficiências no sistema
produtivo.
Infelizmente, a valiosa e salvadora relação "Produto/Capital" parece ser resultado de um processo
aleatório cuja média está longe de
ser constante. É por isso que afirmações apodícticas, como "para
crescer 5% ao ano é preciso investir 25% do PIB ao ano", têm validade duvidosa. Outro ponto interessante refere-se à precedência entre
o investimento e a poupança que o
financia. A poupança, obviamente,
depende da "cultura" incorporada
na sociedade e das instituições que
aquela criou. Nas sociedades civilizadas do Ocidente, entre as quais o
Brasil se inclui, há razoáveis evidências empíricas que, no desenrolar do crescimento, o investimento
precede à poupança.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
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