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PLÍNIO FRAGA
Não há aposta sem risco
RIO DE JANEIRO - O episódio
envolvendo os 11 militares que entregaram três jovens nas mãos de
traficantes de morro do Rio -tendo
sido então torturados e mortos-
deveria ser visto como laboratório
por aqueles que insistem na tese da
participação das Forças Armadas
na segurança pública.
O argumento mais comum é chamar de ilógica a não-mobilização de
um contingente militar de quase
300 mil homens -sendo 190 mil só
do Exército- já que o país não tem
um inimigo externo a enfrentar.
Usando esses militares no combate
ao tráfico e na ação ostensiva de patrulhamento, haveria melhora na
sensação de segurança, alegam os
defensores da mudança constitucional do papel das tropas.
Os exemplos mais conhecidos de
participação das Forças Armadas
na segurança pública são os do México e da Colômbia, responsáveis
pela distribuição e produção de
grande parte da droga que circula
no continente. Não podem ser tomados como um modelo, pois enfrentam hoje disputas internas de
poder que os ameaçam de ser classificados como narco-Estado, tal é a
monta do enfronhamento das organizações criminosas em suas instituições políticas, administrativas e
econômicas.
Um general mexicano que comandava a operação antidroga no
México foi preso em 1997, acusado
de ser sócio de traficante que tinha
uma fortuna de US$ 10 bilhões. Ao
ser ouvido, o general Jesus Gutiérrez Rebollo calculava que metade
das autoridades mexicanas de combate ao tráfico recebia dinheiro do
tráfico. Aqui seria diferente?
O ministro Nelson Jobim vê na
participação das Forças Armadas
na garantia da segurança pública
uma forma de obter uma ampliação
significativa do verdadeiro combalido orçamento militar. Uma chance de modernização. Mas não é uma
aposta temerária demais?
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