São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004 |
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TENDÊNCIAS / DEBATES Saber integrado no hospital universitário
EDUARDO MOACYR KRIEGER
No estágio atual de desenvolvimento de nosso país, é fundamental que os hospitais universitários, ao lado da assistência e do ensino, façam pesquisa para satisfazer uma necessidade básica do sistema de saúde: triar e cientificamente avaliar os novos procedimentos, tanto os que envolvem medicamentos como os representados pelos novos equipamentos. Os países que não têm essa competência limitam-se à condição de compradores de caixas-pretas. Essa é, portanto, uma atividade que a sociedade espera que os hospitais universitários realizem. Para tanto, é necessário que eles estejam adequadamente aparelhados e contem com recursos humanos qualificados. Aqui é que entra a necessidade de formarem equipes multidisciplinares, nas quais, ao lado dos médicos e dos paramédicos tradicionais do setor de enfermagem, nutrição etc., é necessário contar, também, com profissionais biomédicos que foram treinados para fazer pesquisa. Evidente que os médicos professores do hospital universitário devem ter uma formação científica, mas não há nenhuma desvantagem -pelo contrário- se, ao lado de um clínico ou de um cirurgião altamente especializado, existirem profissionais dedicados somente à pesquisa. A responsabilidade de realizar simultaneamente assistência, ensino e pesquisa é da instituição e de suas equipes multidisciplinares. O Instituto do Coração (Incor) é, em nosso meio, um exemplo marcante por ter desde a sua criação atraído profissionais das mais variadas formações, o que contribuiu para que ele se tenha tornado um centro reconhecido internacionalmente pela excelência com que aproxima a criação do conhecimento de sua aplicação no campo da cardiologia. Um outro exemplo notável ocorre no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, junto à Faculdade de Odontologia de Bauru. Criou-se um laboratório para estudos da função respiratória e da fala, sob a responsabilidade de profissionais com formação biomédica e treinamento científico dado pela pós-graduação, que dá apoio ao diagnóstico e à avaliação de resultados nos operados de lesão lábio-palatina. Em 20 anos, o Laboratório de Fisiologia Respiratória tornou-se referência nacional e é reconhecido internacionalmente. Outros exemplos certamente existem, mas é necessário generalizar a criação de equipes multidisciplinares nos hospitais universitários, para que eles possam cumprir a totalidade de suas tarefas. Todos sabemos que existem dificuldades financeiras para a contratação de equipes multidisciplinares, mas há também que proceder uma mudança cultural para que elas sejam valorizadas. Elemento positivo, e que favorece nesse momento a constituição das equipes, é o fato de a nossa pós-graduação formar anualmente centenas de doutores na área biomédica básica que precisam ser aproveitados nas suas competências. Finalmente, é conveniente acentuar que o pessoal científico Incorporado às equipes pode apresentar projetos competitivos às agências financiadoras, possibilitando equipar os laboratórios de pesquisa do hospital sem ônus para a instituição. Eduardo Moacyr Krieger, 76, professor emérito da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, diretor da Unidade de Hipertensão do Incor, é membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e presidente da Academia Brasileira de Ciências. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Paulo Rabello de Castro: A porta-bandeira e o mestre-sala Índice |
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