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A DIREÇÃO DO REAL
A escolha do "real" como nome da moeda criada pelo mais
bem-sucedido plano antiinflacionário no Brasil não foi casual. Tratava-se não só de homenagear a história
remota do país dos "contos de réis"
mas principalmente de fixar, para as
gerações futuras, a idéia de que moeda é coisa real, não a ficção a que se
habituaram os brasileiros, vítimas
das ilusões inflacionárias.
Quase oito anos depois de criada,
no entanto, a moeda que lastreou a
eleição e a reeleição de FHC é uma
pálida sombra do símbolo original.
A fragilidade tornou-se patente
porque as duas gestões de FHC criaram armadilhas que tornam incerto
o rumo da economia brasileira.
Em seminário sobre o regime de
metas inflacionárias, o presidente do
BC, Armínio Fraga, afirmou que o
equilíbrio fiscal e o controle da inflação "caminham na direção certa".
As dúvidas sobre o acerto ou mesmo a existência desse suposto rumo
vicejam entre alguns dos principais
economistas do país. O ex-ministro
Luiz Carlos Bresser Pereira publicou
há algumas semanas um estudo veemente contra a política monetária do
governo FHC. Também o ex-ministro Antonio Delfim Netto vem alertando para os riscos da política econômica de FHC.
Há duas semanas, a vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, declarou que a dívida brasileira é
"maior do que o desejável", embora
não seja um "problema imediato".
Nesta semana, o BC faz nova reunião para decidir sobre os juros e as
expectativas do mercado convergem
para a tese de que haverá uma redução nas taxas. Afinal, houve até deflação e a economia está desaquecida.
Mas qual a sustentabilidade dessa
possível redução se os indicadores de
endividamento público, interno e externo, são um obstáculo relevante no
médio e longo prazos?
Essa é a herança do real. Pesam sobre as gerações futuras a fragilização
do sistema produtivo e o aumento da
dívida pública, interna e externa.
A redução dos juros é possível apenas quando os fundamentos estão
no rumo certo, ou seja, o governo
consegue equilíbrio nas contas públicas e nas contas externas.
Mas o governo FHC acaba de decretar um corte de gastos da ordem
de R$ 5 bilhões justamente porque
tem dificuldades para aprovar o remendo da CPMF. É um sintoma de
fragilidade fiscal. As contas externas
também são fonte de inquietação.
Estudos do JP Morgan, referência
na avaliação de riscos nos mercados
financeiros internacionais, indicam
uma dívida bruta brasileira de 73%
do PIB, mais 10% do PIB em "esqueletos" fiscais (passivos ainda não incorporados à dívida).
Apenas para estabilizar a trajetória
do endividamento brasileiro seria
necessário um esforço de arrecadação e controle de gastos fortíssimo, a
ponto de gerar um superávit primário da ordem de 3,5% do PIB.
Fraga disse que "é do interesse de
qualquer que seja o futuro governante construir as bases para o país crescer e respeitar essa equação".
Infelizmente, o governante sob o
qual opera o presidente do BC não
seguiu esse seu truísmo. A direção
do real é incerta, seja qual for o candidato que afinal vier a administrar a
herança financeira da era FHC.
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