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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O outro terrorismo!
O presidente George W. Bush
deve ter decepcionado o seu povo ao perder de vista o autor intelectual dos atentados de 11 de setembro
de 2001, apesar de toda a parafernália
militar que mobilizou para a caça de
Bin Laden. Mais decepcionados ficaram os americanos ao saberem que
Bush fora avisado pela CIA a respeito
dos atentados.
Frustrado com esses fracassos, o
presidente decidiu ele mesmo patrocinar uma grande onda de terrorismo,
dessa vez no campo comercial. Sem
quê nem para quê, passou a taxar as
importações de aço com alíquotas
crescentes, a última delas atingindo
em cheio o Brasil, que exporta para os
Estados Unidos aços planos de boa
qualidade e produzidos com insuperável eficiência.
Como se isso não bastasse, Bush
partiu para um ataque frontal contra
os produtores mundiais de soja, de
milho e de outros produtos agrícolas
ao enviar para o Congresso americano
a monstruosa "farm bill", que castiga
sem piedade os fazendeiros brasileiros. Os subsídios para a agricultura
americana ficarão mais altos do que os
praticados pela União Européia
-lembrando-se que 75% dos recursos do governo serão abocanhados
pelos grandes fazendeiros.
Por que tanto terrorismo? Só para
pagar dívidas eleitorais com siderúrgicas ultrapassadas e com fazendeiros
lobistas? Isso é demais!
Não bastassem esses ataques, vêm
agora as agências de avaliação de risco
recomendar aos investigadores que se
afastem do Brasil. Nós, brasileiros,
sempre abrimos as portas para o capital estrangeiro que aqui veio para produzir e criar empregos. Fomos generosos ainda com os que aqui chegaram para explorar as nossas obscenas
taxas de juros. É só surgir no "front"
algum fato de que eles venham a não
gostar e disparam a disseminação do
pânico no mercado financeiro.
O Brasil não pode ficar passivo diante dessas indecentes investidas. Que
tal disseminar nos Estados Unidos a
verdade, ou seja, que os consumidores
americanos vão pagar mais caro pelos
automóveis, pelos tratores, pelas máquinas e por tudo o que usa aço assim
como pelos alimentos industrializados que usam soja, milho, trigo etc.?
Sei bem que a arena oficial para a
discussão dessas questões é a Organização Mundial do Comércio. Mas o
presidente George W. Bush não consultou a OMC antes de detonar os seus
ataques. Tampouco as agências de risco consultaram o FMI ou o Banco
Mundial antes de abrirem a sua mala
de boatos.
Os americanos, que sempre premiaram a eficiência, provavelmente rejeitarão o patrocínio da ineficiência. E,
do nosso lado, se estão surgindo novos tipos de terrorismo -o comercial
e o financeiro-, mais do que nunca
temos de nos unir, trabalhar duro e
encontrar, com os ministros responsáveis pelo comércio internacional, os
métodos para superar esse grande desafio.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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