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ELIANE CANTANHÊDE
População encurralada
BRASÍLIA - Apesar da onda de indignação que varou o país por causa
dos militares que entregaram três
rapazes desarmados para a sanha
assassina de traficantes armados, o
comandante do Exército, general
Enzo Martins Peri, acha que está na
hora de discutir seriamente sobre a
ampliação ou não do emprego das
Forças Armadas na chamada GLO
(Garantia da Lei e da Ordem), hoje
limitada na Constituição.
Em entrevista à Folha, Enzo defendeu um bom debate com a sociedade. Disse que a polêmica é sobre o "tamanho" da atuação do
Exército em áreas urbanas conflagradas e em três circunstâncias: o
Estado não ter condições de agir
sozinho, em casos específicos e
com tempo pré-determinado. Ou
seja, não se trata de liberar geral.
O tema é muito complexo, permeado por traumas ainda recentes
da ditadura militar, mas não dá para tapar os olhos para o que acontece, especialmente no Rio: o crime
organizado substituiu o Estado nas
favelas. Manda e desmanda.
A população se sente encurralada: se ficar como está, os traficantes
pegam, esfolam e matam; se correr,
o Exército vem aí com seus tanques, fuzis e botas e passa por cima.
E não se descarta que, a longo prazo, haja alianças entre os dois.
A barbaridade de um tenente de
25 anos, que covardemente entregou os rapazes aos seus algozes,
abre uma discussão que precisa ser
feita, por mais que doa. E feita diante de fatos e da realidade, não de suposições e de dogmas.
Ontem, a Folha trouxe entrevista da cientista política Maria Celina
D'Araújo, contra a ampliação do
emprego das Forças Armadas, alegando que o militar não é treinado
para funções de polícia e que há risco de contaminação. Já o historiador José Murilo de Carvalho é a favor, ponderando que a experiência
no Haiti foi exitosa e poderia ser
transportada para o Rio. Trata-se
de um bom debate, com gente de
primeira linha e numa hora crucial.
Que prossiga, pois.
elianec@uol.com.br
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