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CLÓVIS ROSSI
Contaminação
SÃO PAULO - Algumas penúltimas palavras sobre envolver ou não
os militares no combate ao crime:
1 - Mais de um leitor parte, em
seus e-mails, da pressuposição de
que sou a favor desse envolvimento.
Não. O que defendi, lá atrás, quando
começou a surgir o tema, foi a necessidade de um estudo profundo,
sério, menos emocional, menos
"palpiteiro" a respeito.
Que se estude qual o papel das
Forças Armadas em um país como
o Brasil. Não é lógico que o Brasil
seja na América Latina o que mais
gasta em Defesa, segundo recente
levantamento do Centro de Estudos Nova Maioria, da Argentina, ou
o país que, depois do Paraguai, mais
aumentou o orçamento da área,
sem que a sociedade saiba direito
para que servem tais gastos.
2 - É respeitável, mas imensamente inconvincente, o argumento
de que as Forças Armadas devem ficar fora do combate ao crime porque, se entrassem, seriam "contaminadas". Bom argumento, mas
que demanda complementação.
A seguinte complementação: a
polícia pode ficar "contaminada"?
Por que, se são ambas instituições
armadas a serviço da segurança do
país e da sociedade?
Se é imperioso evitar a contaminação, então deveríamos retirar
também a polícia do combate ao
crime. O que usaríamos no lugar
dela? Um batalhão de anjos capazes
de voltar puros e imaculados dessa
ingrata missão?
Mais: já não existe a tal de "contaminação"? As armas exclusivas das
Forças Armadas, que, vira e mexe,
são encontradas com criminosos,
aparecem em tais mãos por milagre
ou por conivência?
O fato é que o crime permeia toda
a sociedade. Está no morro mas está também no asfalto. Está na periferia mas está também nos bairros
de luxo. Para evitar, portanto, a
"contaminação", só levando Exército, Marinha, Aeronáutica, PMs e
polícias civis para, digamos, Fernando de Noronha.
crossi@uol.com.br
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