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Editoriais
Brasil e Japão
AS COMEMORAÇÕES do centenário da imigração japonesa atingem seu ponto
máximo durante esta semana,
mas não se limitam a um prazo
circunscrito nem aos eventos
previstos pela agenda oficial. Repetem-se todos os dias, na verdade, na vida dos brasileiros.
Celebra-se o centenário toda
vez, por exemplo, que uma criança brasileira -qualquer que seja
a sua etnia- aprende suas primeiras lições de judô, ou que
adolescentes de origem japonesa
jogam futebol. Celebra-se toda
vez que se lêem os "hai-kais" de
algum poeta brasileiro, com sobrenome polonês ou espanhol.
Celebra-se toda vez que, na
música "pop", nas artes plásticas,
na criação de moda, numa sala de
aula ou numa reunião de negócios, um modo de ver a vida, ao
mesmo tempo brasileiro e japonês, se inventa e se renova. Difunde-se, então, sem que importe saber se são descendentes de
africanos, de portugueses, de italianos ou russos os cidadãos que
recebem seu influxo.
O que se comemora, assim, não
é apenas uma admirável história
de audácia, trabalho e adaptabilidade pessoal. Os cem anos de
imigração japonesa também
constituem exemplar caso de sucesso numa questão que afeta
gravemente o mundo contemporâneo: o de como preservar diferentes identidades culturais
num mesmo território sem que o
particularismo, a intolerância e o
conflito comecem a surgir. Ao
contrário, as culturas só se fortalecem na troca e no diálogo
Só aos poucos, sem dúvida, a
cultura brasileira e a japonesa se
aproximaram e fertilizaram mutuamente; não faz muito tempo,
muitas manifestações da estética, da culinária ou da espiritualidade japonesa ainda eram desconhecidas da maioria dos brasileiros. Foram só cem anos, afinal; o
belo caminho iniciado no porto
de Santos, em 1908, continua a
ser trilhado.
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