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GUSTAVO FRANCO
Medo e ganância
DIZ-SE QUE ESSES dois sentimentos se alternam no comando das ações nos mercados financeiros: o primeiro predomina nas crises, o segundo nos
momentos de euforia.
Esta explicação psicossocial para
a aparente irracionalidade dos
mercados financeiros serve, no
fundo, para apoiar a tese de que esses mercados não são capazes de
exibir sentimentos bons, e apenas
se prestam a canalizar o que há de
ruim nas pessoas.
Não vamos aqui discutir esta instigante tese, cujas ramificações vão
muito longe para um espaço tão
curto.
Em vez disso, vamos propugnar a
extensão desta tese para o mundo
da política, e também para os economistas que fornecem material
encordoado para os políticos montarem seus raciocínios. Ou seja, vamos aceitar, ao menos como hipótese de trabalho, que também os
políticos são feitos de medo e ganância, sem lugar para iniciativas
desinteressadas.
Pouco mais de um ano atrás,
quando se discutia a meta de inflação para 2008, prevalecia uma espécie de triunfalismo político, de
que resultava a ganância, que se expressava através da idéia segundo a
qual "um pouquinho mais" de inflação não faria mal nenhum, ao
contrário, tornaria a autoridade
monetária menos rígida e deixaria
algum espaço de gingado para a
economia.
Os políticos perderam a parada
na decisão sobre a meta de inflação, mas ganharam em manter o
gasto público crescendo em ritmo
alucinante, para não dizer insustentável.
O resultado, um ano depois, é
uma economia superaquecida
cheia de fumaça de inflação. Desta
vez, durante a escolha da meta para
2009, a ganância política desapareceu por completo, substituída pelo
medo, e a razão para isso é exatamente o fato de que obtivemos,
através da política fiscal, "um pouquinho mais" de inflação, como era
o desejo de alguns políticos e "altas
fontes palacianas".
Todavia, diferentemente do que
pensavam os defensores do "pouquinho mais", as pessoas detestaram o aumento da inflação. Detestaram, mesmo considerando que
era, de fato, bem pouquinho. E detestaram tanto que o presidente teve que prestigiar o Banco Central,
em detrimento de seus assessores
carbonários, o que deve ter provocado uma ciumeira deliciosa.
O presidente sabe ler o pensamento das maiorias mudas, e viu
que a inflação é um trauma, e que
pode colocar tudo a perder. Viu
também que, pela cotação de hoje,
cada 2% adicionais de inflação valem, em Unidades de Popularidade
Política, algo próximo de um PAC.
A inflação destrói capital político
mais rápido do que qualquer outra
encrenca vinda da economia.
gh.franco@uol.com.br
GUSTAVO FRANCO escreve aos sábados nesta
coluna.
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