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RUY CASTRO
Atalhos oportunistas
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues dizia que, se todos conhecessem a vida sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria
ninguém. Outro dia, o cientista político Bolívar Lamounier afirmou
algo parecido: que, se fosse possível
punir toda a corrupção vigente no
país, metade da população teria de
ir para a cadeia. E foi ainda mais duro no diagnóstico: "O Brasil é essencialmente corrupto".
Para Lamounier, a corrupção
-que não dorme, é solerte- tende
a aparecer mais em surtos de crescimento econômico. Faz sentido:
quanto mais dinheiro em jogo, mais
se rouba ou se tenta roubar. Por
sorte, não estamos sozinhos. Para
ele, Rússia, Japão, Coréia do Sul,
China, França e Estados Unidos
nos têm feito excelente companhia
no pântano.
Uma causa da tendência brasileira a esses, digamos, atalhos oportunistas seria nossa visão, herdada
dos anos 50, de que o desenvolvimento produziria uma população
"melhor", mais bem educada e com
tantas oportunidades que não comportaria o crime. É verdade, achava-se mesmo isto. No dia em que a
maioria dos brasileiros se vestisse
na Ducal, tivesse um Fusca na garagem e conta no Banco Nacional, o
Brasil seria o paraíso.
Bem, o desenvolvimento chegou,
a Ducal, o Fusca e o Nacional já
eram, e a corrupção não diminuiu.
Ao contrário, aumentou. Aquela visão otimista e evolucionista, segundo Lamounier, estava errada. O
problema é que ainda acreditamos
em Jean-Jacques Rousseau, para
quem as pessoas são boas, e é a sociedade que as corrompe.
Melhor seria, diz ele, se fizéssemos como os americanos e acreditássemos em Thomas Hobbes. Para
Hobbes, as pessoas são más, e é preciso ficar de olho nelas. Mas, num
país em que a PM mata inocentes, a
Justiça solta criminosos e os piores
exemplos vêm de cima, quem vai ficar de olho em quem?
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