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IGOR GIELOW
O homem oco
BRASÍLIA - Daniel Dantas, como
é previsível, está calado. Seu silêncio enerva muita gente. Mas do jeito
que as coisas vão, ele há de se vingar, provando afinal de contas que
não é ninguém. É um homem oco,
cuja importância é apenas um delírio da platéia.
Dantas não foi a versão tropical
dos oligarcas, os apparatchiks soviéticos que lucraram na esteira de
privatizações mal-reguladas. É fantasia imaginar que ele, no governo
Lula, tentou aproximar-se do poder
com a ajuda do então primeiro-comissário José Dirceu.
Não há nada de estranho na condução da fusão da Oi com a Brasil
Telecom, nem com a solução de
suas pendências. Seus enviados, como Luiz Eduardo Greenhalgh, apenas são bons amigos do pessoal da
cozinha do Planalto.
Dantas é oco. Ele nem sequer é
dono do Opportunity. Talvez nem
seja rico. Não conta com uma bancada de parlamentares, oposição e
situação, pronta a tirar o corpo fora
quando a idéia é investigá-lo e mais
disponível ainda quando o negócio
é lhe prestar alguma ajudinha.
O melhor truque do diabo, diz o
velho clichê, é ele nos convencer de
que não existe. E a mão amiga da
Polícia Federal, que se perdeu numa disputa que enrolou o próprio
Lula, deixou tudo mais fácil.
Num inquérito em que a missão
recebida por uma repórter por sua
chefia vira prova da "encomenda de
matérias jornalísticas" por parte de
Dantas, a coisa parece simples para
um bom advogado. De tudo o que
apareceu até aqui, apenas o explícito caso de suborno parece que vai
vingar, por assim dizer. Mesmo assim, pode haver elementos para circunscrever a fatura aos bagres já
pescados.
Dantas ou é um homem oco, para
conceder-lhe o direito da dúvida, ou
deve sonhar com aqueles de T.S.
Eliot, esperando que seu mundo
acabe não com um estrondo, mas
com um suspiro. Assim, inexistente, ele pode se reinventar. De novo.
igielow@folhasp.com.br
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