|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Inclusão enviesada
Prouni traz alunos de baixa renda para o ensino superior, mas educação profissional de nível médio carece de atenção
O PROUNI (Programa
Universidade para Todos, do governo federal) merece aprimoramentos, mas ninguém lhe nega o
mérito de contribuir para tornar
socialmente menos injusto o
acesso ao ensino superior.
De 2004 a 2006, aumentou de
10% para 15% a parcela de universitários com renda familiar
mensal de até três salários mínimos. A concessão de 250 mil bolsas do programa em 2005 (ano
de sua efetivação) e 2006, tendo
como contrapartida isenções para as faculdades particulares, decerto participou desse avanço
auspicioso.
Só em 2006 entraram no sistema 360 mil alunos dessa faixa de
renda a mais do que em 2004.
Como menos de 140 mil deles receberam o estipêndio do Prouni
naquele ano, fica evidente que há
outros fatores em ação, como a
queda do valor das mensalidades
em escolas privadas, o que facilita o acesso a quem não consegue
passar na seleção do Prouni.
Apesar do progresso, parece
pouco provável que se cumpra a
meta de ter 30% dos jovens de 18
a 24 anos cursando o ensino universitário até 2011. De 2004 a
2006, essa taxa líquida de escolarização superior subiu de 10,5%
para apenas 12,6%.
No biênio em tela, por outro lado, a população universitária
continuou em crescimento encorpado, agregando 1 milhão de
estudantes. O sistema universitário se expande por incorporação sobretudo de pessoas acima
da faixa etária habitual, que representam hoje 44% do estudantado. Em geral, trabalhadores
que já estão no mercado, em busca de valorização profissional.
Não cabe dúvida de que o ensino superior precisa ampliar-se,
mas as peculiaridades de tal expansão nos últimos anos assume
algumas feições preocupantes. A
principal delas diz respeito ao
ensino médio, cujo crescimento
não tem acompanhado tal ritmo
e ainda vai muito mal em qualidade, e também à educação profissional de nível secundário, talvez o ponto mais frágil do sistema educacional brasileiro.
Em 2004 havia 4,5 milhões de
universitários e apenas 676 mil
alunos de ensino profissional.
Dois anos depois, eram 5,5 milhões contra 744 mil. Ou seja, um
setor expandiu-se à taxa de 23%
e o outro, à de 10%.
Cabe questionar se muitos dos
que rumaram para a sonhada vaga na universidade não seriam
mais bem atendidos em cursos
técnicos, a um custo mais vantajoso tanto para o aluno -que faria um investimento menor de
tempo e dinheiro- como para o
contribuinte, que é quem custeia
as isenções para faculdades que
sustentam o Prouni.
O país precisa de sua qualificação, mas necessita também de
profissionais de nível técnico
-maior gargalo do mercado de
trabalho- para fazer frente aos
imperativos do desenvolvimento e da competitividade no mercado mundial. Menos de 2% das
despesas públicas com educação,
contudo, se destinam ao ensino
profissional.
Sociedade e governos, em todos os níveis de administração,
precisam dar mais atenção a essa
modalidade crucial de ensino.
Próximo Texto: Editoriais: Segurança na eleição
Índice
|