|
Próximo Texto | Índice
UM HOMEM COMO POUCOS
O papa João Paulo 2º acaba de
completar 25 anos de pontificado. É um período longo. Tão longo que o seu papado já é o quarto
maior de uma história de quase 2.000
anos. Foi tempo suficiente para que
o sumo pontífice imprimisse sua visão de mundo ao Vaticano e consolidasse suas posições, que ganharam
expressão doutrinária. Como é inevitável, seu pontificado encontra entusiastas e críticos, num debate que
guarda muito de ideológico.
Antes de tornar-se João Paulo 2º,
em 1978, Karol Józef Wojtyla foi bispo da Cracóvia (Polônia), sob regime
comunista. Isso já bastava para torná-lo quase automaticamente um
militante anticomunista, papel que
desempenhou com competência. Há
quem afirme que ele foi um dos responsáveis pela queda dos regimes
comunistas do Leste Europeu. Há aí
evidentemente algum exagero, mas
não se deve cair no extremo oposto
de menosprezar seu papel na luta
contra as ditaduras socialistas.
O anticomunismo não lhe turvou a
visão para os males do capitalismo.
Ao contrário, João Paulo 2º se notabilizou como crítico feroz da globalização e das desigualdades. Assumiu
também a firme defesa da paz. Recentemente opôs-se de modo categórico à invasão do Iraque, classificando-a de "imoral e injusta".
No plano evangélico, é o papa mais
ativo de que se tem notícia. Mesmo
considerando-se que João Paulo 2º
contou com o auxílio de um aparato
tecnológico que seus antecessores
não conheceram, ele coleciona uma
lista de feitos que impressiona. Fez
95 viagens para fora da Itália, visitando 130 países, nos quais proferiu
2.357 discursos, frequentemente na
língua local. Tentando aproximar a
santidade das pessoas normais e estas da santidade, concluiu 473 canonizações. Todos os outros 263 papas
juntos canonizaram 302 santos.
O ativismo do papa, porém, não
bastou para fazer a Igreja Católica
crescer nestes 25 anos. O número de
padres está mais ou menos estabilizado em torno de 400 mil há dez
anos; ele vem caindo acentuadamente nos países ricos e crescendo nas
nações mais pobres.
As críticas a João Paulo 2º concentram-se nos aspectos doutrinários de
seu pontificado. Ele nunca escondeu
que é um conservador e desde o início combateu o clero dito progressista, em especial a Teologia da Libertação. Nomeou tantos cardeais conservadores que o próximo sumo pontífice deverá ser alguém afinado com a
sua linha de pensamento.
O ponto mais polêmico de seu
pontificado está em suas rígidas posições em matéria de moral sexual,
em especial a condenação ao uso de
preservativos, que adquiriram, devido à epidemia de Aids, a condição de
apetrecho vital. Para muitos, as constantes censuras à utilização dos preservativos são logicamente insustentáveis, pois não faria sentido condenar os métodos artificiais de contracepção e admitir os naturais.
A moral conservadora também se
torna contraditória quando contrastada com a leniência com que a igreja
vem tratando os casos de padres que
se envolveram em abusos de menores, em relação aos quais se poderia
imaginar que o Vaticano recorresse a
medidas mais rigorosas.
Um balanço definitivo do pontificado de João Paulo 2º depende ainda
de maior perspectiva histórica. O que
parece bastante claro, desde já, é que
se trata de um homem extraordinário, mas, ainda assim, um homem e,
como tal, sujeito a paixões, contradições, acertos e erros.
Próximo Texto: Editoriais: O DESAFIO DO EMPREGO Índice
|