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CLÓVIS ROSSI
Cavando a própria cova
SÃO PAULO - Ao desembarcar na terça-feira no aeroporto de Cumbica, tive uma agradável surpresa: a Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) distribuiu folhetos, à porta
do avião, para rastrear os passageiros
como prevenção à tal Sars (a "pneumonia asiática").
É raro ver demonstrações de rapidez e eficiência de parte de autoridades brasileiras, em qualquer área. Pena que durou muito pouco. Preenchido o formulário e tendo-o à mão,
passei pelo controle de passaportes.
Ninguém o solicitou.
Passei também pela alfândega. Havia até um funcionário da Receita,
sentado e com essas máscaras de médico no rosto, recolhendo a declaração de bens. Entreguei os dois formulários (o da Receita e o da Anvisa),
mas ele recusou o da Saúde. Perguntei a quem deveria entregá-lo. "Não
tenho a menor idéia", respondeu,
com a má vontade habitual em boa
parte do funcionalismo.
Fui saindo do aeroporto com a
consciência meio culpada, achando
que havia passado batido por algum
recanto no qual o formulário da Anvisa deveria ser entregue.
Se foi assim, não estava sozinho. A
tripulação do vôo da United que me
trouxera de Washington também
passava a meu lado, com os formulários nas mãos.
O episódio é ilustrativo. O próprio
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
tem se queixado a seus íntimos de
que a máquina pública não funciona
como ele gostaria. É lenta, desinteressada, emperrada.
No caso da "pneumonia asiática",
a culpa nem é da cúpula, mas da preguiça da base. Não há muitos aeroportos internacionais no Brasil, os
que existem não são exatamente locais insalubres ou arriscados para
trabalhar. Custava ter alguém sentado na saída (única) dos passageiros,
fazendo o esforço de esticar o braço
para apanhar um papelzinho?
Depois, o funcionalismo se queixa
de perseguição. Muitos ajudaram a
cavar a sepultura em que o prestígio
dele foi sendo enterrado.
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