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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O Congresso e os transgênicos
A guerra econômica e ideológica
em torno da soja transgênica trará grandes prejuízos para o Brasil, no
curto e no longo prazos.
No curto prazo, a comercialização
dos grãos já colhidos está causando
um alvoroço no meio rural. A identificação, rotulagem e certificação estão
gerando novos custos e retardando a
comercialização do produto. Prejuízos enormes.
No longo prazo, a incerteza do novo
plantio deixa o Brasil enfraquecido
perante os seus concorrentes, em especial os que aprovam os cultivares
transgênicos -como é o caso dos Estados Unidos e da Argentina. Para
eles, a incerteza é motivo de alegria e
comemoração.
A confusão é enorme. Os que plantaram não podiam plantar, pois a lei
proibia. Mas eles não esperavam que
seriam barrados na comercialização.
Os que colheram, só podem vender
informando os compradores a respeito da transgenia. E também não esperavam que teriam de enfrentar tamanhas dificuldades.
Já estamos chegando perto do novo
plantio. A indefinição cria intranquilidade e, com isso, o Brasil corre o risco
de perder uma parte do grande sucesso que a agricultura vem apresentando nos últimos anos.
Há 25 anos, o Brasil produzia cerca
de 1.200 kg de soja por hectare. Hoje,
produz mais do que o dobro disso. Em
São Paulo, a média ultrapassou os
2.600 kg por hectare; no Paraná, 3.000
kg, e no Mato Grosso, 3.100 kg.
Por trás desse êxito está o esforço
dos pesquisadores e a tenacidade dos
produtores. Entre 1997 e 2002, mais do
que dobramos a produção de soja, ultrapassando a casa das 50 milhões de
toneladas.
No geral, o período de 1990 a 2001 foi
marcado por um enorme crescimento
da produtividade da agricultura. Nesse período, a produtividade do trabalho cresceu 53% e a da terra, 34%. São
incrementos fantásticos e que colocam nossos concorrentes de olho naquilo que o Brasil pode representar
como ameaça nas próximas décadas.
O fenomenal desempenho da agricultura brasileira é bom e oportuno,
pois o mundo precisa desesperadamente de alimentos. Vejam o caso do
Iraque, que foi destruído por uma
guerra descabida e que pode se alastrar pelo Oriente Médio. Observem
também o caso da China, que tem 1,3
bilhão de habitantes e um solo relativamente pobre e que perde água e fertilidade ano a ano. O mesmo acontece
com a Índia, que também tem mais de
1 bilhão de habitantes. Nestes dois casos, são bocas famintas que fazem
parte de países que crescem, aumentam a renda e elevam o poder aquisitivo -significando oportunidades
concretas para a expansão das exportações agrícolas do Brasil.
Esperemos que o Congresso Nacional coloque um ponto final na incerteza reinante. Como problemas, bastam
o protecionismo externo e a escorchante taxa de juros interna. A agricultura brasileira tem superado todos
esses entraves e não pode ser estancada por interesses de multinacionais e
de ideólogos que nunca provaram que
o produto faz mal à saúde humana.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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