São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O futuro do Iraque ROGER BRIDGLAND BONE
A era de Saddam Hussein chegou
ao fim. Todavia os esforços necessários para reparar os danos causados
por tantos anos de brutalidade estão
apenas começando. O Iraque é um país
abençoado com um potencial extraordinário, que se reflete no talento de seu
povo, na diversidade de sua cultura e na
abundância de seus recursos naturais.
Será necessário, porém, um enorme esforço para concretizar esse potencial.
Ao centro desse esforço estará uma forte parceria entre a comunidade internacional e o povo iraquiano, com o objetivo de garantir a paz, prosperidade e estabilidade do Iraque.
Muito se disse a respeito do papel da ONU nesse processo. A posição do Reino Unido é bastante clara: assim como o Brasil, acreditamos que a Organização das Nações Unidas tenha um papel fundamental na reabilitação do Iraque. Defendemos a adoção de novas resoluções por parte do Conselho de Segurança da ONU que reafirmem a integridade territorial do país, garantam o fornecimento imediato de ajuda humanitária e apóiem uma administração adequada para o Iraque pós-conflito. O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, e o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, discutiram a importância do envolvimento da ONU nesse processo durante uma reunião realizada semana passada em Atenas. Apoiamos a formação imediata de uma autoridade interina no Iraque, que assuma rapidamente as funções do governo. A coalizão precisará trabalhar em cooperação com as Nações Unidas na criação desse órgão. No momento certo, esperamos que uma conferência nacional venha a unir representantes autorizados de todos os setores da sociedade iraquiana para aprovar a formação dessa autoridade interina. A reunião realizada no sul do país, em 15 de abril, foi um primeiro passo nesse sentido. É claro que, em última análise, essas decisões cabem ao povo do Iraque. Conduzir a transição de uma ditadura a uma democracia no Iraque é um grande desafio, para o qual a comunidade internacional terá de contribuir com recursos financeiros e humanos por muitos anos. É uma tarefa desafiadora, mas, certamente, realizável. As rivalidades ancestrais de caráter tribal e étnico não serão eliminadas de um dia para o outro, mas o povo iraquiano tem muito a ganhar com esse processo de cooperação e conciliação. Alguns exemplos recentes em outros países são encorajadores. No Afeganistão, por exemplo, a população tem, agora, um governo genuinamente representativo. Quase 2 milhões de refugiados que haviam abandonado o pais devido à brutalidade do governo Taleban já retornaram a suas casas. Nos Balcãs, a ditadura foi substituída por uma democracia. A população do Kosovo deixou de viver com medo da perseguição do governo e já começa a usufruir dos privilégios da liberdade, tão comuns nas democracias ocidentais. A tarefa da comunidade internacional é garantir que o povo iraquiano tenha acesso a esses privilégios. Creio que a contribuição do Brasil para esses esforços seja muito importante. O Reino Unido e o Brasil compartilham a fé na democracia e na importância do respeito aos direitos humanos e à força da lei. Não tenho dúvidas de que, com o apoio da comunidade internacional, em breve esses valores fincarão suas raízes em solo iraquiano, servindo de base para o próspero futuro tão esperado e merecido pelo povo do Iraque. Sir Roger Bridgland Bone, 58, é embaixador do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte no Brasil. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Dom Cláudio Hummes: Páscoa, fonte de paz Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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