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CLÓVIS ROSSI
O avanço da barbárie
SÃO PAULO - Abu Ghraib, o Iraque inteiro, o atentado aos trens em Madri -parece haver evidências suficientes para dizer que a barbárie conhece um bom momento.
Mas há outras evidências que, por
mais próximas, deveriam incomodar
ainda mais. Já nem me refiro à barbárie cotidiana da violência nas
grandes cidades brasileiras, que virou constante também em outras
metrópoles, como a Cidade do México ou Buenos Aires.
O inquietante é que, como no Iraque, o Estado está sendo atropelado
sem que as próprias autoridades se
dêem ao trabalho de retificar uma situação que, por isso mesmo, só tende
a se agravar.
Ninguém parece ter ficado chocado, por exemplo, com o fato de o clássico argentino Boca x River pela Libertadores de América ter ficado restrito a torcedores do Boca quando o
jogo foi no campo deste e aos do River
na partida de volta.
Ou seja, aceitou-se passivamente
uma espécie de apartheid esportivo
porque as autoridades se assumiram
como incapazes de manter a lei e a
ordem se houvesse duas tribos diferentes no mesmo estádio.
O direito de ir e vir e o direito ao lazer foram cerceados em nome da segurança, porque o Estado é incapaz
de manter, ao mesmo tempo, ordem
e direitos individuais.
Pior: ninguém reclamou.
Essa mesma rendição do Estado está ocorrendo nos Andes. Dois prefeitos, um peruano e um boliviano, já
foram linchados por suas próprias
comunidades (tribos aimaras).
"O Estado boliviano perdeu o controle de certas regiões do território há
alguns anos", admite Alfonso Balderrama, porta-voz do governo.
Que seja assim no inóspito e remoto altiplano (ainda que a cidade do
linchamento fique a apenas 87 km de
La Paz), ainda daria para entender.
Mas, quando o descontrole chega
aos estádios da cosmopolita Buenos
Aires, seria bom começar a tomar
providências.
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