São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Por uma nova regulação social ZANDER NAVARRO
Estudioso da globalização, David
Held destacou recentemente o divisor histórico em que estamos ora imersos, sob o qual fermenta uma combinação de bloqueios que poderão produzir
catastróficas conseqüências. Entre esses
fatores, o possível colapso das normas
relativas ao comércio internacional; o
iminente fracasso das "metas do milênio", estabelecidas pelas Nações Unidas
como objetivos mínimos de mudança,
especialmente em relação à pobreza; a
ameaça do aquecimento global e suas
manifestações climáticas cada vez mais
corriqueiras; e, também, o ataque sistemático aos organismos e tratados de
cooperação multilateral, particularmente pelos Estados Unidos. Em momentos cruciais como este, adverte, escolhas urgentes precisam ser operadas.
Em face dos impasses crescentes, requer-se atualmente uma outra forma de regulação. Mas esta será, necessariamente, uma regulação democrática e, para ser bem-sucedida, precisa ser republicana. Por quê? Diferentemente do que houve no passado, surgiram duas condições novas para fundamentar esse cenário de definições. Primeiramente, todos os humanos, atualmente, vivem em sociedades de mercadorias, a mercantilização da vida social sendo ubíqua e criando novas noções de consumo e necessidades. Vivemos sob a cultura do mercado e todos somos, direta ou indiretamente, afetados pelas formas capitalistas da vida econômica. Secundariamente, deixou de existir um contraponto societário, a noção de socialismo ou uma "nova sociedade" passando a fazer parte de um imaginário cada vez mais remoto, senão inexistente. Temos, isso sim, uma ampla "variedade de capitalismos", e sobre essa diversidade é que se encontram as chances de transformação social. Mas há outra marca notável desse período histórico, que é a expansão de uma ordem política democrática e, contrariando os pessimistas, essa forma de governo e as práticas sociais decorrentes abrem amplas chances de montagem de uma nova regulação social. Construí-la se apresenta como o maior desafio de nossos dias, inclusive por impor um complexo ordenamento internacional. Mas, no plano nacional, é igualmente um quadro de extraordinária exigência operacional. No Brasil, por exemplo, exigiria que nossas elites políticas percebessem o evidente atraso associado à ideologia pré-moderna do comunitarismo católico, também rompendo com a cultura política populista e confrontando diretamente os corporativismos da vida social brasileira. Especialmente, exigiria a compreensão acerca da necessidade de uma regulação que não propusesse apenas a ampliação do Estado, como vem sendo feito, pois esta passou a ser só uma parte da solução, as demais incluindo outros mecanismos de controle social, inclusive os não-intencionais e os processos públicos não-estatais. Parodiando Marx, em um contexto como esse, nossas elites políticas estariam preparadas para compor a "música do futuro", vencendo a escassa legitimação das formas atuais de representação e a generalizada inoperância da ação governamental? Zander Navarro, 53, é professor visitante da Universidade de Sussex (Inglaterra) e professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Demétrio Magnoli: A falência da ocupação do Iraque Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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