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TEATRO DE GUERRA
Com saldo de 11 mortos, mais
uma guerra entre facções do
tráfico teve lugar no Rio de Janeiro,
envolvendo a disputa pelo controle
de pontos de drogas nas favelas de
Parada de Lucas e Vigário Geral. O
domínio de territórios inteiros por
grupos do crime organizado, como
os famigerados Comando Vermelho
e Terceiro Comando, não é novidade, mas continua em expansão.
Para os que ainda se iludem, acreditando que esse fenômeno seja característico do Rio, basta lembrar reportagem recente da Folha mostrando como em bairros da periferia paulistana traficantes impõem sua lei,
determinando horários para visitas e
circulação de pessoas.
Em áreas mais pobres das grandes
cidades, nas quais a presença do Estado como promotor da cidadania é
praticamente nula, verificando-se
quase somente em ações repressivas,
as condições para a proliferação de
atividades ilegais têm sido extremamente propícias. Num ambiente de
persistente e elevado desemprego, o
tráfico de drogas acaba recrutando
cada vez mais jovens.
O quadro da violência ligada ao
narcotráfico envolve, ainda, fatores
como o desaparelhamento das polícias, os atrativos da corrupção, a difícil vigilância sobre as fronteiras, o
congestionamento da Justiça, a precariedade do sistema penitenciário e
a crescente demanda por drogas.
Mencione-se, além disso, o fato de
que as autoridades parecem atuar
constantemente com atraso em relação aos avanços da criminalidade.
Muitas vezes preferem o brilho midiático de uma ação espetacular ao
trabalho sistemático de enfrentamento do crime e de suas causas.
Diante de cenário tão problemático, é ilusório acreditar na existência
de alguma grande "solução". A complexidade da questão sugere que o
país ainda poderá conviver longamente com os efeitos nocivos da presença do narcotráfico. Além, portanto, de clamar por medidas drásticas e
definitivas, seria realista cobrar
maior empenho e coordenação entre
as diversas esferas envolvidas.
A expansão do narcotráfico não
pode ser combatida apenas de forma
pulverizada, com ações locais, quase
sempre ineficientes, de repressão a
chefetes, quadrilhas e pontos-de-venda. Trata-se de um drama de dimensão nacional, a exigir a articulação de diversas instâncias públicas
com vistas a implantar políticas que,
em seu conjunto, enfrentem a situação. Pois é disso que se trata: enfrentar um estado de coisas que vai transformando parte das grandes cidades
brasileiras em teatro de guerra.
O Ministério da Justiça tem procurado costurar acordos com Estados e
dá sinais de perceber as proporções
do problema. É preciso, no entanto,
avançar. Ao aparelhamento das polícias, à reforma do sistema penitenciário e às mudanças na legislação
penal é imprescindível acrescentar o
investimento público em cidadania.
Os grandes "complexos" de favelas
estão a exigir políticas ativas. É indispensável que o Estado apareça nessas áreas sob a forma de saneamento
básico, melhoria habitacional, educação, saúde, lazer e infra-estrutura
urbana. Não é admissível que o país
continue assistindo, impotente, à
transformação desses imensos bairros pobres em cidadelas da criminalidade. É inaceitável que populações
inteiras sejam utilizadas como escudo para o narcotráfico e que parcela
delas, por medo, revolta ou falta de
opção, venha a aderir à lei do crime
organizado. A sociedade brasileira
precisa urgentemente começar a
mudar essa perigosa realidade.
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