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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A deprimente pichação de São Paulo
Não vai aqui nenhuma insinuação política, pois não sou filiado a
nenhum partido nem sou candidato a
nada. Sou um simples paulistano que
ama São Paulo de modo profundo e
que está horrorizado com a feiúra da
cidade, causada pela pichação que domina as paredes, pontes e viadutos de
norte a sul e de leste a oeste.
Sei que o problema é de difícil resolução. A pichação é uma forma de
agressão física. Faz parte da violência
urbana.
Uma interessante pesquisa identificou os sentimentos que movem a atividade dos pichadores: (1) desejo de
afirmação pessoal por meio do desafio
às regras estabelecidas e da exibição de
logotipos e mensagens ininteligíveis;
(2) vazio existencial, que reflete uma
ausência de amparo emocional e psicológico no seio da família; (3) atração
pela aventura e pelo perigo, por meio
dos quais procuram mostrar que são
fortes e corajosos a despeito da destruição que praticam; (4) ausência de
perspectivas de vida decorrentes da
falta de oportunidades de trabalho
(Maurício da Silva, "Violência nas Escolas e Caos na Sociedade", Editora
Virtual, 2000).
É claro que tais sentimentos não podem ser revertidos com mera punição. Enfrentá-los exige uma valorização contínua dos jovens na família, na
escola, no trabalho e nos grupos de lazer. Trata-se de ações bastante complexas, de massificação difícil e que
demandam tempo.
O que fazer nesse ínterim? A vigilância é indispensável. Não se pode fazer
vista grossa a quem agride a propriedade com sujeira e a população com
besteira. As autoridades têm de identificar os pichadores.
Concluída essa fase, passa-se à mais
difícil, ou seja, a de tentar converter os
sentimentos de destruição em condutas de criação. A organização de ambientes de grafitagem pode ajudar a
transformar pichadores em artistas
-campo no qual já há experiências
bem-sucedidas.
Outra medida seria solicitar ao futuro grafiteiro que ajude a limpar o que
fez na propriedade alheia. A colaboração na limpeza como condição do
exercício da atividade artística visaria
canalizar a criatividade para tarefas
mais aceitáveis pela sociedade.
Reconheço que tudo isso é insuficiente. Mas, se nada for feito, a sujeira
vai aumentar, e isso não pode acontecer. Os "porcolinos" precisam ser contidos. Os cidadãos e contribuintes têm
o direito de exigir das autoridades políticas públicas de vigilância e educação que garantam um mínimo de ordem e de limpeza nas cidades onde
moram.
Nesse sentido, valeria a pena para as
autoridades de São Paulo visitar, com
a necessária humildade, a cidade do
Rio de Janeiro e várias capitais do
Nordeste onde os governantes estão
conseguindo manter as cidades limpas e dentro do padrão de belezura
com o qual sempre sonhei para o local
onde moro e trabalho.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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