São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Atraso espacial

Foguete VLS só volta a voar em 2012, nove anos após a tragédia de 2003; governo mantém projeto estratégico sob dieta

O VLS (Veículo Lançador de Satélites), pedra angular do programa espacial brasileiro, prossegue firme no rastro dos fracassos e adiamentos. O foguete cujo desenvolvimento iniciou-se em 1980 voará novamente só em 2012 -se nada mais der errado.
O retrospecto do VLS demonstra que muita coisa ainda pode dar errado. Foram três tentativas e três fiascos: 1997, 1999 e 2003. Na última, a ignição acidental ainda na torre de lançamento causou a morte de 21 técnicos e engenheiros no centro de lançamento de Alcântara (MA).
Há menos de três anos, o governo federal previa no Programa Nacional de Atividades Espaciais 2005-2014 que o quarto protótipo do VLS seria lançado em 2007. Uma previsão tão irrealista quanto a promessa, logo após a tragédia de 2003, de efetuar nova tentativa até 2006.
Os sucessivos descumprimentos deixam patente que o planejamento nessa área complexa é no mínimo errático. O pretexto atual para mais uma postergação é a cultura de segurança que estaria em implementação no Instituto de Aeronáutica e Espaço, órgão encarregado da montar e testar o veículo lançador.
Mais verossímil é que o projeto esteja sofrendo os efeitos de um fluxo inconstante de verbas, moléstia crônica do programa espacial. O orçamento da AEB para 2008 é de meros R$ 189 milhões (R$ 30 milhões para o VLS), 23% menos que em 2007. E só 39% do autorizado para este ano foram realizados até agora.
Nem mesmo a reconstrução da torre destruída em 2003 progrediu. A Agência Espacial Brasileira (AEB) anuncia agora, cinco anos depois, que as obras começarão em 2009.
Em paralelo, criou-se uma empresa binacional para lançar, de Alcântara, o modelo ucraniano Cyclone-4. Obter rendimento comercial com a base maranhense não é má idéia. Mas há boas razões estratégicas para adquirir autonomia na capacidade de lançar satélites em órbita e fazer uso pleno da localização de Alcântara, cuja vizinhança com a linha do Equador favorece a diminuição de custos de lançamento.
Já se disse aqui que o Brasil possui dimensões, recursos e massa crítica para justificar um programa espacial de verdade. Argumento similar pode ser adiantado a favor do desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear, outro projeto estratégico que o país ensaia há décadas sem traduzir em recursos suficientes toda a retórica grandiloqüente que os cerca. Passa da hora de fazê-los deslanchar.


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