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Atraso espacial
Foguete VLS só volta a voar em 2012, nove anos após a tragédia de 2003; governo mantém projeto estratégico sob dieta
O VLS (Veículo Lançador
de Satélites), pedra angular do programa espacial brasileiro, prossegue firme no rastro dos fracassos e adiamentos. O foguete cujo
desenvolvimento iniciou-se em
1980 voará novamente só em
2012 -se nada mais der errado.
O retrospecto do VLS demonstra que muita coisa ainda pode
dar errado. Foram três tentativas e três fiascos: 1997, 1999 e
2003. Na última, a ignição acidental ainda na torre de lançamento causou a morte de 21 técnicos e engenheiros no centro de
lançamento de Alcântara (MA).
Há menos de três anos, o governo federal previa no Programa Nacional de Atividades Espaciais 2005-2014 que o quarto
protótipo do VLS seria lançado
em 2007. Uma previsão tão irrealista quanto a promessa, logo
após a tragédia de 2003, de efetuar nova tentativa até 2006.
Os sucessivos descumprimentos deixam patente que o planejamento nessa área complexa é
no mínimo errático. O pretexto
atual para mais uma postergação
é a cultura de segurança que estaria em implementação no Instituto de Aeronáutica e Espaço,
órgão encarregado da montar e
testar o veículo lançador.
Mais verossímil é que o projeto
esteja sofrendo os efeitos de um
fluxo inconstante de verbas, moléstia crônica do programa espacial. O orçamento da AEB para
2008 é de meros R$ 189 milhões
(R$ 30 milhões para o VLS), 23%
menos que em 2007. E só 39% do
autorizado para este ano foram
realizados até agora.
Nem mesmo a reconstrução da
torre destruída em 2003 progrediu. A Agência Espacial Brasileira (AEB) anuncia agora, cinco
anos depois, que as obras começarão em 2009.
Em paralelo, criou-se uma empresa binacional para lançar, de
Alcântara, o modelo ucraniano
Cyclone-4. Obter rendimento
comercial com a base maranhense não é má idéia. Mas há boas razões estratégicas para adquirir
autonomia na capacidade de lançar satélites em órbita e fazer uso
pleno da localização de Alcântara, cuja vizinhança com a linha
do Equador favorece a diminuição de custos de lançamento.
Já se disse aqui que o Brasil
possui dimensões, recursos e
massa crítica para justificar um
programa espacial de verdade.
Argumento similar pode ser
adiantado a favor do desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear, outro projeto estratégico que o país ensaia há décadas sem traduzir em recursos
suficientes toda a retórica grandiloqüente que os cerca. Passa da
hora de fazê-los deslanchar.
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