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Editoriais
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Concorrer sem pretexto
O INÍCIO de uma prática fundamental para ampliar a
concorrência entre operadoras de telefonia, a regra da
portabilidade, está sob risco. O
jargão designa a liberdade que o
usuário de telefone fixo ou celular tem de optar por outra operadora, mantendo o número que já
utiliza. Desobrigado de adotar
um novo código, o consumidor
teria maior incentivo para mudar de empresa se estivesse insatisfeito ou buscasse tarifa menor.
Trata-se de uma das normas
básicas de concorrência previstas já em 1997, há mais de dez
anos portanto, cuja entrada em
vigor sofreu vários adiamentos.
Mais recentemente, depois de
amplo debate em 2007, a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) determinou que a medida seria implantada entre 1º de
setembro próximo e março de
2009, de forma escalonada.
Como em outras ocasiões, no
entanto, não é certo que o cronograma seja respeitado. As companhias, que vinham alegando
dificuldade técnica para colocar
a determinação em marcha, agora afirmam que o obstáculo é o
projeto de lei do grampo encaminhado pelo governo ao Congresso Nacional. Haveria problemas
jurídicos relacionados à quebra
de sigilo.
Quanto ao primeiro argumento, uma década de preparação
deveria ter sido mais que suficiente para superar qualquer entrave técnico à medida, ademais
já adotada em outros países.
Quanto ao tortuoso temor de
uma lei de sigilo que ainda não
existe, haverá decerto soluções
institucionais para preservar
tanto a intimidade como o direito do consumidor a mais competição na telefonia -alternativas
já estão em discussão.
A Anatel até agora demonstra
firmeza. O presidente da agência, Ronaldo Sardenberg, negou
no início deste mês que acataria
um novo pedido de adiamento.
Se recuar, a agência -cuja autonomia foi atropelada no caso da
fusão de duas operadoras de telefonia- colherá mais descrédito.
Onde foi implantada com diligência, a portabilidade aumentou a competição entre as operadoras, incentivou os ganhos de
eficiência e baixou as tarifas para
o consumidor. Em vez de fincar
pé numa posição indefensável,
invocando pretextos, as empresas de telefonia deveriam preparar-se para essa nova realidade
do mercado.
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