|
Próximo Texto | Índice
DIAS DE DECISÃO
A uma semana do pleito que vai
eleger o sucessor de Fernando
Henrique Cardoso -e após uma semana de campanha nas ruas, no rádio e na TV-, o quadro eleitoral permanece francamente favorável a Luiz
Inácio Lula da Silva. A pesquisa Datafolha que este jornal publica hoje indica que a vantagem do petista sobre
José Serra, que era de 26 pontos percentuais na semana passada, aumentou mais três pontos. Se a chance de Serra reverter o favoritismo de
seu adversário já era pequena há sete
dias, agora é remota.
A propaganda da chapa governista
se pautou, nos últimos dias de campanha, pelos ataques sistemáticos e
cada vez mais fortes a Lula e ao PT.
Os serristas, de modo geral, procuraram despertar o temor na população
a respeito de uma futura administração petista, atribuindo despreparo a
Lula e a seu partido, sugerindo comparação entre o que ocorre na Venezuela de Hugo Chávez e o que poderia ocorrer no Brasil de Lula e criticando o petista por furtar-se aos debates diretos entre presidenciáveis.
Mas essa estratégia radical de Serra
parece não ter comovido o eleitor a
mudar a decisão de voto. É possível,
inclusive, aventar a hipótese de que a
"campanha negativa" se tenha voltado contra o próprio Serra, impedindo que o candidato governista subisse na preferência do eleitorado e, até,
fazendo com que a diferença em favor de Lula aumentasse. Vale lembrar que a campanha de Lula, afora
um ou outro episódio isolado, manteve-se na linha "festiva", repleta de
cantigas e de imagens de confraternização e avessa a confrontos.
Parece pouco, no entanto, associar
unicamente a aspectos de estratégia
de campanha uma diferença em favor do petista que, se fosse traduzida
em votos, estaria em torno de 27 milhões. Além disso, é bastante homogênea a liderança do petista seja em
termos regionais, seja em termos socioeconômicos.
A favor de Lula, parece prevalecer
um sentimento plebiscitário neste
segundo turno sobre os oito anos de
governo FHC -por mais que a campanha de Serra tenha lutado para evitar que o confronto ganhasse essa
conotação. Como demonstram alguns resultados de uma outra pesquisa feita pelo Datafolha perscrutando a razão de voto dos eleitores no
primeiro turno, é bastante provável
que o público esteja enxergando o
confronto entre Lula e Serra como o
da mudança contra a continuidade.
E a continuidade -em meio a uma
drástica crise financeira- pode estar
sendo duramente punida.
A popularidade de FHC continua
com um desempenho relativamente
bom depois de oito anos e diversas
crises. Vinte e seis em cada cem eleitores consideram seu governo ótimo
ou bom. Serra captura a maioria desse eleitorado satisfeito com o presidente, mas seu poder de atração cai
bastante entre os 70% que consideram o governo regular, ruim ou péssimo. Há, portanto, um comportamento mais homogêneo nessa última e amplamente majoritária faixa
em favor de Lula, o candidato que
mais transmite a idéia de mudança.
Registre-se que essa aparente onda
oposicionista, por enquanto, traduz-se apenas numa grande probabilidade de que, em janeiro, a faixa presidencial de FHC seja recebida por Lula. É preciso aguardar o veredicto das
urnas depois de uma semana que
contará com um debate na TV e que
ainda pode reservar surpresas.
Próximo Texto: Editoriais: INCERTEZA FINANCEIRA
Índice
|