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INCERTEZA FINANCEIRA
Toda crise financeira torna
mais curtos os horizontes. Do
desempregado ao investidor frustrado na Bolsa, a primeira vítima da crise é o grau de confiança no futuro.
O império do curto prazo fica evidente em quase todas as atividades,
mas é especialmente intenso no desempenho das Bolsas de Valores.
Como se trata de instituições criadas para receber recursos daqueles
que pretendem investir pensando no
longo prazo, elas estão entre as formas de poupança mais sacrificadas
em crises como a que atualmente
afeta a economia brasileira e, de resto, todo o sistema global.
Não é totalmente desconhecido esse cenário. Como se viu na crise financeira de 1929, o encurtamento
dos horizontes e o retorno baixo dos
investimentos levam as ações das
empresas a recordes de baixa.
Ocasionalmente, ocorrem movimentos positivos que os especialistas caracterizam como "ajustes técnicos". Como ocorre em casos de
empresas cujas ações parecem exageradamente desvalorizadas, levando alguns investidores a apostar em
sua recuperação, comprando papéis
e assim aquecendo o mercado.
Depois da bolha nas Bolsas dos Estados Unidos, os mercados de capitais nas principais economias do
mundo entraram num processo de
queima de capitais. Na Alemanha,
dois terços da riqueza em Bolsa já foi
consumida e não há ainda certeza de
que o processo tenha chegado ao
fim. No Japão, o volume de "ativos
podres" nos balanços dos bancos é
tão grande que a economia se arrasta
num processo de depressão que já
supera uma década.
Atreladas ao valor dessas ações estão, nos EUA, as expectativas de uma
classe média cuja aposentadoria fora
planejada com base numa exposição
significativa às Bolsas de Valores.
No Brasil, também há essa conexão entre aposentadorias e desempenho das Bolsas, sobretudo em alguns fundos de pensão estatais com
forte presença no mercado.
Em 2001, os fundos de pensão registraram uma insuficiência de recursos de R$ 3,9 bilhões em relação
ao que deveriam pagar de benefícios.
Com a crise de confiança, as Bolsas
contribuíram para tornar mais incerto o futuro desses poupadores.
Até onde irá a tolerância dos governos e dos organismos multilaterais
como o FMI diante de desequilíbrios
financeiros que atingem diretamente
os direitos de milhões de beneficiários -como nos fundos de pensão?
O exemplo das Bolsas de Valores e
dos fundos de pensão é apenas um
entre muitos de setores cuja saúde financeira vem perdendo qualidade
nos últimos meses. Cada uma das vítimas da crise é candidata a receber a
atenção dos governos. Na prática, o
que há por trás da incerteza financeira são decisões políticas sobre como
distribuir os custos da crise.
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