|
Próximo Texto | Índice
Aprender com o Ideb
Indicador do MEC se firma como instrumento de diagnóstico, mas é só um primeiro passo na reforma total do ensino
O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é a pedra
angular de uma unanimidade nacional, a mobilização
para recuperar a qualidade do indigente sistema de ensino do
país. Assim deve permanecer.
O índice pondera desempenho
dos alunos em provas de português e matemática com taxas de
aprovação para fornecer um número padronizado que sinaliza
onde se encontra um determinado Estado, município ou escola.
É informação crucial para fixar
metas a alcançar e para distribuir recursos de acordo com
elas. Por essa razão, não pode ficar sujeito a erros e à desconfiança que aí fincaria raízes.
Há dez dias, com a divulgação
dos indicadores em nível nacional e por Estado, o Ideb motivou
discreta comemoração: indicava
que o país havia atingido já em
2007 as metas para 2009, ainda
que baixas. Com a nova rodada
de números, empalidecem ainda
mais as razões para otimismo,
pois se descobre que só 1% a 2%
dos municípios e escolas de ensino fundamental do Brasil conseguem alçar-se ao patamar de países desenvolvidos, com a nota 6
fixada como alvo para 2022.
Com esse desdobramento dos
dados, o índice produzido pelo
MEC volta a desencadear um debate saudável. Alguns estabelecimentos e municípios apresentaram variações despropositadas,
como a escola municipal Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida, de Santa Fé do Sul (SP), que
teria saltado de 2,6 para 8,6, tornando-se de repente a melhor do
Brasil. É óbvio que ocorreu ali algum equívoco (na hipótese benigna), seja na coleta de dados,
seja na aplicação das provas. Resta saber com que freqüências
acontecem tais casos.
Se até no caso de municípios
como São Paulo há problemas
com as informações, o que dirá
de cidades pequenas, onde não
há tradição de controle estatístico. A Secretaria de Educação
paulistana, escaldada por erro do
MEC em 2006 que fizera suas escolas despencarem oito posições
num ranking de capitais, chegou
a fazer reparos ao novo Ideb antes da divulgação. Arquivos encaminhados pela secretaria computavam notas para alunos
transferidos, falha que rebaixou
médias paulistanas e não foi corrigida a tempo pelo MEC.
Até certo ponto, discrepâncias
desse gênero são inevitáveis
num banco de dados com o escopo do Ideb, que abrange mais de
30 mil escolas em cerca de 5.500
municípios. Sempre haverá prefeituras coletando dados de qualidade duvidosa. Cabe ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão
do Ministério da Educação encarregado de coligir o Ideb, desenvolver filtros e auditorias para aperfeiçoar continuamente o
instrumento de diagnóstico.
Um cuidado, porém, é preciso
tomar: não despender energia
demais cuidando do termômetro
e perder a febre de vista. Estatísticas são um meio, não um fim. O
desafio da educação pública de
qualidade, ideal republicano e
requisito de competitividade no
mercado mundial, só será solucionado em sala de aula, com
professores preparados, motivados e bem remunerados.
Próximo Texto: Editoriais: Gestão deficiente
Índice
|