São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Aprender com o Ideb

Indicador do MEC se firma como instrumento de diagnóstico, mas é só um primeiro passo na reforma total do ensino

O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é a pedra angular de uma unanimidade nacional, a mobilização para recuperar a qualidade do indigente sistema de ensino do país. Assim deve permanecer.
O índice pondera desempenho dos alunos em provas de português e matemática com taxas de aprovação para fornecer um número padronizado que sinaliza onde se encontra um determinado Estado, município ou escola. É informação crucial para fixar metas a alcançar e para distribuir recursos de acordo com elas. Por essa razão, não pode ficar sujeito a erros e à desconfiança que aí fincaria raízes.
Há dez dias, com a divulgação dos indicadores em nível nacional e por Estado, o Ideb motivou discreta comemoração: indicava que o país havia atingido já em 2007 as metas para 2009, ainda que baixas. Com a nova rodada de números, empalidecem ainda mais as razões para otimismo, pois se descobre que só 1% a 2% dos municípios e escolas de ensino fundamental do Brasil conseguem alçar-se ao patamar de países desenvolvidos, com a nota 6 fixada como alvo para 2022.
Com esse desdobramento dos dados, o índice produzido pelo MEC volta a desencadear um debate saudável. Alguns estabelecimentos e municípios apresentaram variações despropositadas, como a escola municipal Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida, de Santa Fé do Sul (SP), que teria saltado de 2,6 para 8,6, tornando-se de repente a melhor do Brasil. É óbvio que ocorreu ali algum equívoco (na hipótese benigna), seja na coleta de dados, seja na aplicação das provas. Resta saber com que freqüências acontecem tais casos.
Se até no caso de municípios como São Paulo há problemas com as informações, o que dirá de cidades pequenas, onde não há tradição de controle estatístico. A Secretaria de Educação paulistana, escaldada por erro do MEC em 2006 que fizera suas escolas despencarem oito posições num ranking de capitais, chegou a fazer reparos ao novo Ideb antes da divulgação. Arquivos encaminhados pela secretaria computavam notas para alunos transferidos, falha que rebaixou médias paulistanas e não foi corrigida a tempo pelo MEC.
Até certo ponto, discrepâncias desse gênero são inevitáveis num banco de dados com o escopo do Ideb, que abrange mais de 30 mil escolas em cerca de 5.500 municípios. Sempre haverá prefeituras coletando dados de qualidade duvidosa. Cabe ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação encarregado de coligir o Ideb, desenvolver filtros e auditorias para aperfeiçoar continuamente o instrumento de diagnóstico.
Um cuidado, porém, é preciso tomar: não despender energia demais cuidando do termômetro e perder a febre de vista. Estatísticas são um meio, não um fim. O desafio da educação pública de qualidade, ideal republicano e requisito de competitividade no mercado mundial, só será solucionado em sala de aula, com professores preparados, motivados e bem remunerados.


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