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GUSTAVO FRANCO
Criação de riqueza
NO SEGUNDO semestre de
1993, quem quer que apresentasse um cheque de US$ 80 bilhões teria comprado todas as empresas listadas na Bovespa, incluindo Petrobras, Telebrás,
e Vale.
Todas.
Quinze anos depois, este mesmo
cheque teria de ser quase vinte vezes maior, de US$ 1,6 trilhão; e o
número de empresas abertas é menor, cerca de 400, sendo que exatas
cem empresas estão listadas no
Novo Mercado.
A comparação de valores em dólares envolve algum exagero, mas
fácil de corrigir. O PIB em 1993 foi
de US$ 429 bilhões, e, em 2007,
atingiu US$ 1,3 trilhão. Assim sendo, a totalidade das companhias
abertas brasileiras valia cerca do
equivalente a 18% do PIB em 1993,
e passou a valer 108% do PIB ao final de 2007.
São números impressionantes,
cujo significado deve ser apreciado.
O leitor que acompanhou o processo de privatização, torcendo
contra ou a favor, aprendeu que o
valor de uma empresa é dado pelo
valor presente do fluxo futuro de
rendimentos.
A expressão "valor presente" é
chave: significa o "desconto" que
damos a um rendimento futuro pelo fato de que acontece depois, e
não agora. Uma empresa pode valer mais por que acreditamos que o
seu lucro será maior no futuro, ou
por que o "desconto" sobre os seus
resultados futuros será menor.
Parece pacífico que este segundo
elemento, relacionado ao "preço
do amanhã", para usar a expressão
de Eduardo Gianetti, foi o grande
impulso para o processo de criação
de valor nos últimos 15 anos. Esta
ampliação de horizontes reflete,
sem dúvida, melhores "fundamentos" para a economia, os quais, por
sua vez, são resultantes da melhoria brutal que houve na política
econômica de 1993 a 2008.
No tempo da hiperinflação, ninguém considerava rendimentos
que ocorriam depois de cinco anos.
Já em 1997, a República emitia o
seu primeiro bônus de 30 anos pagando juros em dólares, e, agora
nesta semana que passou, o Tesouro cogita vender no exterior um bônus de 30 anos em reais. Todos os
horizontes se expandiram, tudo o
que ocorre no futuro distante passou a ter muito mais valor.
Não há dúvida de que a velha piada sobre o livro de Stephan Zweig
está perdendo o viço. É verdade
que esta nova riqueza não é fictícia
ou especulativa, pois não acho que
esses adjetivos descrevam adequadamente o nosso futuro. Mas é certo que a nova riqueza é volátil, por
que depende do futuro, que tem
por ofício ser incerto. Aliás, como
é o caso em qualquer parte do
mundo.
gh.franco@uol.com.br
GUSTAVO FRANCO escreve aos sábados nesta
coluna.
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