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SERGIO COSTA
Forças ocultas
RIO DE JANEIRO - Uma semana
após a morte de três jovens da Providência, parece que, para o Estado,
os traficantes do morro da Mineira
fizeram apenas o que sempre se espera deles. Ou seja, torturar, matar,
destruir. É como se a quadrilha fosse a "arma do crime" ainda não encontrada pela polícia.
Ninguém foi preso, nenhuma
operação foi feita ali. Ao menos até
a conclusão desta coluna. O que é
curioso, porque a atuação da polícia
no caso tem sido quase exemplar.
Em menos de 48 horas, o que não é
habitual, diz ter esclarecido um crime que envolve o Exército.
Militares detiveram os rapazes
da Providência no sábado. No mesmo dia, eles foram mortos e seus
corpos deram num lixão. Foram
encontrados no domingo. Antes da
noite cair, soube-se a história toda.
Na madrugada de segunda, uma
surpreendentemente ágil Justiça
decretou a prisão dos militares suspeitos. Ao amanhecer, aqui ou na
Europa -extensão além-mar do
Palácio Guanabara-, as autoridades estavam acessíveis como nunca
para comentar, condenar, criticar.
Não tiveram tanta disponibilidade
na prisão do ex-chefe de Polícia Álvaro Lins, deputado pelo PMDB.
Nada contra a eficiência policial.
Ela é desejável e merece aplausos. O
problema é que a estrutura de investigação do Estado prefere demonstrar agilidade quando há interesses políticos e eleitorais, ocultos
ou não, em jogo. O ex-bispo que o
diga -se reaparecer- diante da sua
vitrine eleitoral estilhaçada.
Além do jogo político, deve-se levar em conta que havia outro ator
interessadíssimo em ajudar a esclarecer o crime e, com isso, empurrar
logo o Exército para fora da favela: o
tráfico. Apesar de não ter parado
com a ocupação, teve de reduzir sua
atuação na Providência. Tem sido
espantosa ali a quantidade de gente
disponível para dar informações
sem medo de se identificar. Advinha quem liberou?
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