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CLÓVIS ROSSI
A multidão
SÃO PAULO - Habituado a uma certa
solidão, começo a ficar incomodado com a multidão que começa a fazer
críticas às deficiências ou do capitalismo "latu sensu", ou ao menos de
sua versão contemporânea, com forte
hegemonia do lado financeiro.
Nesta semana, David Ignatius, instigante colunista do jornal "The International Herald Tribune", uma
das raras publicações a que se pode
de fato chamar de global, comenta
que o ioiô em que se transformou o
mercado de ações nos Estados Unidos faz com que "os americanos talvez tenham uma melhor noção do
que é sentir-se como um argentino,
um tailandês ou um turco -e percebam que seu modo de vida econômico está à mercê de mercados financeiros caprichosos e de capitalistas mentirosos, que praticam o compadrio".
Em "The New York Times", Kevin
Phillips, autor de "Riqueza e Democracia: uma História Política dos Ricos Americanos", lamenta os "excessos intelectuais de adoração do mercado, de laissez-faire e de darwinismo social. Noções de comunidade,
propósito cívico e justiça foram postas de lado no debate público".
De passagem, Phillips insinua que o
predomínio do setor financeiro pode
ter raízes promíscuas na medida em
que "se tornou o maior doador para
eleições federais e o que mais gasta
em lobbies em Washington" (no Brasil seria diferente?).
Sejam bem-vindos ao clube, mas
convenhamos que esses pecados, capitais ou veniais, estavam evidentes
desde a primeira hora.
Não era preciso, pois, chegar ao
grau de destruição provocado pelas
sucessivas crises financeiras regionais ou globais para sentir-se como
um argentino, turco ou tailandês.
Mais importante: falta quem coloque de pé propostas de fato consistentes e mais ou menos consensuais para ao menos reduzir a predominância dos caprichos do mercado. É hora, não?
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