|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
A carta e as cartas
BRASÍLIA - As conversas de Armínio
Fraga com representantes dos candidatos à Presidência têm duas leituras
políticas. Uma é positiva, a outra é
negativa -no mínimo, duvidosa.
Lula despachou José Dirceu para
uma visita à Casa Branca e Aloizio
Mercadante para o gabinete do presidente do BC. Ganham Lula e o PT,
pela demonstração de "maturidade"
que os tais agentes econômicos e boa
parte do eleitorado tanto cobram.
Ciro Gomes também vai marcar
amanhã sua ida ao BC, Garotinho
não irá se negar, e José Serra mandou
o presidente do PSDB, José Aníbal, só
para saber tudo aquilo que ele próprio, Serra, estava careca de saber.
Aos olhos do mundo, digamos assim, todos estão cumprindo o seu papel: "pensando no país", ratificando
que o Brasil "está politicamente forte" e se comprometendo com uma
"transição pacífica".
Tudo muito bem, mas a coisa muda quando começam a falar que Armínio vai fazer sua cara mais inocente e pedir que os candidatos assinem
uma "carta de intenções", conforme
publicou "O Globo" na sexta-feira. É
pedir demais.
Tal carta conteria compromissos
básicos: respeito aos contratos, às metas de inflação e ao controle fiscal.
Mas, se é tão genérica, ninguém precisa assinar. E, se for mais especifica,
aí é que não dá.
Ciro já criticou as metas de inflação
como "tecnicamente erradas". O PT
há anos marreta o governo pelos
acordos com o FMI, que só foram iniciados quatro anos depois da posse.
Lula, pois, não poderia ser o primeiro
presidente a assinar um acordo com
a turma antes mesmo da posse...
Além do mais, só o ministro da Fazenda e o presidente do BC têm autoridade para assinar compromissos
desse tipo. Que valor teriam as assinaturas de meros candidatos a presidente? Tanto quanto a palavra.
Por fim, uma lembrança: no fundo
(duplo sentido, sim), quem dá as cartas não é nenhum desses. É uma mulher: Anne Kruger, do FMI, que estará amanhã em Brasília. É ela quem
manda. Até chuvas e trovoadas.
Texto Anterior: São Paulo - Clovis Rossy: A multidão Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Bola de cristal Índice
|