|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
Ainda os alimentos
Alta de preços agrícolas no mundo não dá mostras de arrefecer e exige vigilância crescente da política monetária
ENTRE MEADOS de julho de
2007 e julho de 2008, as
cotações dos produtos
agrícolas, minerais e
energéticos subiram em média
44% no planeta. Entre os alimentos, a maior alta coube ao
milho, 108%. As menores, ao suco de laranja -estagnado - e
carnes suínas, apenas 1%. Em
um dos extremos desse amplo
intervalo, encontram-se a cotação da soja, com alta de 91%; do
arroz, com variação de 76%. Na
outra extremidade, carnes bovinas, com valorização de 8%; algodão, 10%; café, 27%; trigo, 37%.
A despeito de comportamentos tão heterogêneos, as altas
têm se propagado. Segundo o
FMI, a inflação global dos alimentos quase dobrou em 2007.
Enquanto nos países industrializados alcançou 3%, em países em
desenvolvimento chegou a 10%.
Entre esses últimos, a inflação de
alimentos atinge mais fortemente as populações mais pobres e
urbanas. Nesse cenário, as nações mais vulneráveis são as dependentes de importações de alimentos e com elevada incidência
de miséria urbana.
O ciclo de alta nos preços dos
alimentos ainda não dá nenhum
sinal seguro de arrefecimento.
Espera-se que a alta fomente o
crescimento da produção, mas
isso leva tempo, por depender de
ciclos de plantio e colheita. Como os estoques públicos atuais
persistem relativamente baixos,
as cotações ainda podem sofrer
algumas oscilações abruptas.
A esse respeito, uma proposta
interessante que tem surgido seria montar uma espécie de fundo
mundial com os estoques públicos das principais nações produtoras. Ele funcionaria para direcionar alimento guardado em
países que não sofrem crise de
abastecimento para nações em
emergência alimentar. Mas essa
é uma solução para médio e longo prazo. Se os países começarem a comprar mais comida agora para elevar estoques, só vão
pressionar ainda mais os preços.
Por falar em preços, nos EUA o
índice ao consumidor acumulado em 12 meses apresentou alta
de 4,2% em junho. Os alimentos
subiram 5,2%. Na área do euro, a
inflação do consumo projeta alta
de 4% em junho, com destaques
para a comida, que subiu 6,4%.
No âmbito doméstico, mais um
indicador revelou mesma tendência. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o IGP-10 subiu 2%
em julho, acumulando 14,72%
em um ano. Mais uma vez a alta
de itens como soja, milho e carne
no atacado foi determinante.
Sem um auxílio mais vigoroso
da política fiscal, que seria muito
bem-vindo neste momento, o
Banco Central brasileiro vai continuar elevando os juros básicos.
É preciso monitorar a conjuntura com muita atenção, contudo,
pois a hipótese de uma reversão
abrupta de tendências, com deflação em energia e alimentos logo à frente, não está descartada.
Próximo Texto: Editoriais: Punição aos ditadores
Índice
|