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CLÓVIS ROSSI
Quem matou Ronaldinho?
MADRI - Os argentinos cunharam
uma frase absolutamente notável
sobre Carlos Gardel: "Cada dia canta mejor". Gardel morreu faz 73
anos.
Houve um tempo em que milhões de apaixonados por futebol
acreditavam que Ronaldinho Gaúcho era o Gardel do futebol: cada dia
jogava melhor. Durou pouco. Há
dois anos e meio, Ronaldinho chegou à Alemanha como melhor jogador do mundo, pronto para atingir
uma altura ao menos parecida com
a de Pelé (era a previsão de Tostão,
que é o meu farol nesses assuntos,
porque jogou com os melhores e é
capaz de análises frias).
Ronaldinho Gaúcho, a rigor,
morreu anteontem, aos 28 anos.
Não sei se a Folha publicou a foto
do argentino Messi abraçando seu
ex-companheiro do Barça após
derrotá-lo por 3 a 0. O brasileiro está de olhos fechados, cabeça baixa
pendendo do ombro do pequeno
artista argentino. Parece velório, o
velório dele próprio.
Luis Martín, comentarista do
jornal "El País", escreve que Ronaldinho deu pena. Comenta ainda
que o jogador levou mais de três
horas para conseguir urinar para o
exame antidoping. Fecha assim o
epitáfio: "Quis jogar e não pôde.
Quis urinar e não pôde".
O que me intriga -é uma pauta
que me proponho incessantemente
e não tenho coragem de propô-la ao
jornal- é a causa da morte prematura. A Maradona, mataram-lhe as
drogas, todo mundo sabe. Ronaldo,
o "Fenômeno", também teve morte
prematura, mas sua agonia foi praticamente pública, feita de muita
gandaia, algum sobrepeso e contusões graves seguidas.
Ronaldinho só muito recentemente passou a ser criticado, em
Barcelona, por noitadas supostamente desregradas. Machucou-se
pouco, engordou pouco. O jornalismo deve ao público contar quem
matou (ou o que matou) esse Gardel da bola, que já não canta melhor. Nem canta, aliás.
crossi@uol.com.br
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