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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A China e os seus limites
No artigo de domingo passado,
ressaltei a gravidade da crise
energética que atinge a China nos dias
de hoje e que pode comprometer o
crescimento das próximas décadas.
Lendo um ensaio sobre outras limitações do gigante asiático, achei oportuno comentá-las (Megan Ryan e
Christopher Flavin, "Facing China's
Limits", in "The State of the World",
New York, 1995).
A China possui 22% da população
mundial, mas tem apenas 19% de terras cultiváveis, 7% de água e 2% de petróleo. São restrições que não podem
ser desprezadas pelos que se dispõem
a querer enxergar o futuro da China.
Muitos argumentarão que o Japão e
Israel também são pobres em recursos
naturais e se desenvolveram. Mas nenhum deles tem uma população de 1,3
bilhão de habitantes. Outros dirão que
a pobreza da China poderá ser mantida sob controle pela força do regime
comunista. Mas não podemos esquecer que as comunicações modernas
criam novas aspirações e que a China
entrou na OMC, passando a fazer parte do clube dos grandes exportadores
e importadores.
A questão alimentar é crítica. E a necessidade de alimentos importados
está batendo à porta da China. O consumo per capita subiu de 2.000 calorias/dia em 1965 para 2.640 calorias/
dia em 1990. Daí para a frente, o problema da fome foi confinado a pequenas áreas da zona rural. O aumento
calórico baseou-se na maior participação de grãos na forma de carne, ovos e
laticínios.
Do lado da produção, a agricultura
chinesa passou por uma revolução
graças à adoção de variedades melhoradas, ao uso intenso de fertilizantes e
à irrigação. Na última década, entretanto, a produtividade estancou devido à erosão e ao constrangimento dos
recursos naturais -falta de água, limitação de terras cultiváveis e uso excessivo de fertilizantes.
A intensa pressão exercida sobre as
terras levou a China aos seus limites. A
cada ano, centenas de milhares de
hectares são retirados das zonas agrícolas por puro esgotamento. No referido ensaio, os autores estimam que
um terço das terras cultiváveis tenha
sido perdida.
Ao mesmo tempo, a demanda por
grãos explodiu e continuará aumentando. Segundo as mesmas estimativas, o consumo per capita de grãos até
2030 subirá de 300 quilos anuais para
400 quilos. Com isso, o déficit de alimentos da China subirá para 400 milhões de toneladas por ano.
Considerando que as exportações
anuais de grãos estão em 200 milhões
de toneladas, quem vai suprir essa necessidade? Não estará ai a grande janela de oportunidade para o Brasil? Penso que sim. É claro que ninguém pode
suprir todas as necessidades da China,
mas, se suprirmos um quarto da nova
demanda, dobraremos a safra atual!
Recursos naturais e competência não
nos faltam. Precisamos apenas de
boas políticas públicas para apoiar o
setor.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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