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CARLOS HEITOR CONY
O festim
RIO DE JANEIRO - Foi comovente a prestação de contas feita pelo presidente Lula de seu primeiro ano de governo. Superou todos os antecessores
em matéria de auto-elogio e só faltou
atribuir-se o mérito de o Sol nascer
todos os dias.
Jogou para o futuro todos os desafios da hora presente -e, por falar
em presente, presenteou-se e presenteou seus auxiliares com um assombroso festim comemorativo do Natal,
do fim de ano e de seus genéricos
triunfos.
Louve-se a economia nos gastos,
pois um único bródio responderá por
três. Outro governante promoveria
três banquetes, um para o Natal, outro para o fim de ano e um terceiro
para a confraternização do poder,
que me parece um pleonasmo, pois o
governo confraterniza-se diariamente nas páginas do "Diário Oficial".
Tem mais: iniciou o ano e a gestão
prometendo acabar com a fome,
num programa complicado a partir
do nome. E termina o exercício fiscal
com uma festa de arromba, que reduz qualquer fome a zero, com o reforço de 50 quilos de carne da região
pantaneira e outros tantos quilos de
peixe trazidos da Amazônia.
Qualquer espírito de porco desocupado faria a sugestão de distribuir
tanta comida aos que realmente têm
fome. Pessoalmente, considero-me
um espírito de porco desativado, mas
volta e meia cometo reincidências.
Uma delas é continuar gostando de
Lula e torcendo por ele. Jogo todas as
minhas fichas nele, sobretudo após
sua festejada ida à Líbia, onde certamente descolou grandes investimentos do ditador local que ajudarão
nossa combalida e democrática economia.
Não foram divulgados os litros de
chope e caipirinhas. Na Idade Média,
nas grandes festas do poder, eram
servidos javalis colossais, porcos-espinhos cuja carne tinha a fama de ser
saborosa e de levantar defuntos.
O governo não precisa de tão sofisticado cardápio. Fará apenas uma
boquinha para tapear a fome que
ainda não reduziu a zero.
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