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ILUSÕES PERDIDAS
Um dos efeitos importantes
das revelações sobre as atividades do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro
Diniz é a percepção, que vai se generalizando pela sociedade, de que desaparece da política brasileira um
pólo de referência ética, como foi o
PT na maior parte de sua trajetória de
oposição. Se as visões do partido
acerca da economia e da política
eram freqüentemente ingênuas,
quando não irrealistas ou irresponsáveis, não havia dúvida de que o petismo, quanto entravam em cena
questões relativas à ética, estava na
maioria das vezes do lado certo.
É verdade que a crescente participação do partido em prefeituras e governos estaduais já havia contribuído
para dilapidar uma fatia desse patrimônio construído com denúncias
sobre irregularidades de governantes
e embates contra o fisiologismo e a
corrupção de políticos tradicionais.
Os problemas para exercer o poder
de forma "diferente" -o que é muito mais fácil anunciar do que fazer-
foram aparecendo aqui e ali. Concessões e acordos políticos espúrios
passaram a ter lugar nesta ou naquela prefeitura, neste ou naquele governo, numa ou noutra campanha. Foram tais práticas se tornando as faces
visíveis de acertos mais comprometedores, que nem sempre vinham à
tona, mas podiam ser perfeitamente
intuídos em sua dimensão oculta.
Que o PT precisaria, de alguma maneira, sujar as mãos para governar,
poucos duvidavam. O fato, porém,
de que a história tivesse depositado
nessas mesmas mãos muito das aspirações de moralização política nutridas pela sociedade deixou o partido numa encruzilhada.
De certa forma, essa dicotomia está
relacionada a duas linhas que participam da fundação do partido. De um
lado, a sua origem católica, a alimentar os valores da honestidade e da
correção moral. É o PT da solidariedade, da ajuda aos pobres, do bom-mocismo. De outro, a influência da
esquerda, da lógica bolchevique, que
tradicionalmente pouco se importa
com questões relativas à moral burguesa ou religiosa, apenas servindo-se delas se úteis para atingir seus objetivos de exercício do poder.
A solução da equação parece ter sido a mais tradicional e previsível possível: o manto da ética e do moralismo religioso passou a encobrir o
pragmatismo da militância esquerdista, na realidade cada vez menos de
esquerda e mais pragmática.
O PT que foi convocado pelos brasileiros a ocupar o poder federal já
não era o mesmo partido de outras
campanhas. Tornara-se, certamente,
mais "maduro" e menos ameaçador.
Os temores de que cometeria desatinos se dissiparam. Ficou apenas, para lembrar o slogan utilizado, a esperança. Esperança de mudança no padrão ético da cultura política do país
e esperança de uma gestão da economia compatível com o perfil de um
partido egresso da produção.
A frustração causada pela adoção
de uma política econômica conservadora, em pouco ou quase nada diversa da que lhe antecedeu, já era crescente. Compensava-a, porém, o fato
de o presidente Lula contar com um
crédito de confiança quanto a suas
boas intenções. É como se o eleitor
dissesse: se não foi feito é porque
ainda não foi possível, afinal, eles são
decentes e confiáveis.
É essa credibilidade política que
agora se vê atingida de forma irreversível. Sem resultados econômicos e
com problemas para manter a confiança da sociedade, o desgaste será
inevitável. O escândalo Waldomiro
sacramenta uma realidade que já se
mostrava bastante clara. Estreitam-se dramaticamente as chances de
que algo de mais substancioso venha
efetivamente a mudar.
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