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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Prioridade número 1: investir!
O mundo está assustado. As economias do Primeiro Mundo poderiam estar crescendo mais depressa, mas vão muito devagar. Nos Estados
Unidos, os escândalos dos balanços,
as quedas nas Bolsas de Valores e o
medo do terrorismo minaram a confiança dos consumidores e dos investidores. O desemprego, que baixara a
4% no final dos anos 90, já esbarra nos
6%. O crescimento em 2002 deverá ficar em torno de 2%.
A União Européia, igualmente, está
ziguezagueando. O crescimento não
passará de 1%, como reflexo dos escândalos dos balanços, do terrorismo
e dos déficits exagerados do setor público de vários países. O desemprego
está na média de 9%, atingindo 13,5
milhões de pessoas.
Em reportagem publicada no jornal
"O Globo", uma grande parte do fiasco europeu é atribuída à baixa produtividade (1,1% ao ano), que foi de cerca
da metade da americana (1,8%) no período de 1993-2001 ("Máquina européia emperra", "O Globo", 16/9/2002).
O Japão, que brilhou tanto nos anos
70 e 80, amarga mais de dez anos de
uma dura recessão. Os programas de
investimento governamentais se sucederam, uns após os outros. Os juros
baixaram para 0%. E nem assim os
produtores se animaram a investir em
novas atividades. O desemprego
-que sempre esteve em torno de
2%- já ultrapassa a casa dos 5%.
Segundo a Unctad, ligada à ONU, os
investimentos mundiais caíram pela
metade em 2001. A retração dos investimentos e o mau desempenho das
economias avançadas têm um reflexo
imediato nos países emergentes. No
Brasil, dependemos delas em importações e em exportações, e ficamos em
maus lençóis quando as nações desenvolvidas evitam importar usando estratagemas protecionistas.
O que deu no mundo? Numa palavra, fomos duramente atingidos por
uma grave crise de confiança. Cada fator apontado tem uma parte da responsabilidade, e a junção de todos explica o desânimo quase geral do mundo inteiro.
O Brasil não está fora disso. Como
somos parte de uma aldeia desanimada e desconfiada, o medo se espalha
pelos que aqui investem. Mas razão
objetiva não há. Falta de potencialidade, muito menos. Ao contrário. Com
todas as dificuldades e o perverso protecionismo, vamos fechar o ano com
um saldo positivo de mais de US$ 8 bilhões na balança comercial. Mesmo
com a forte alta do dólar, temos uma
inflação sob controle. Com todos os
problemas climáticos do ano passado,
produzimos cerca de 100 milhões de
toneladas de grãos. E, a despeito da
queda dos investimentos mundiais, o
Brasil recebeu cerca de US$ 22 bilhões
do exterior em 2001.
É verdade que crescemos pouco. Fecharemos o ano com 1,5%. Mas, em
vista das dificuldades apontadas, nosso desempenho não foi tão mal. Ainda
há muitos motivos para confiar no
Brasil. Quem pensa a médio prazo não
tem razão para reduzir os investimentos. Quem pensa a longo prazo tem todas as razões para dobrá-los. O importante é garantir uma boa governabilidade para poder investir.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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