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CARLOS HEITOR CONY
César vai a bordo!
RIO DE JANEIRO - São dois os tipos
de governante: os que fazem e vão em
frente, sem responder às críticas
-certas ou erradas-, e os que se
preocupam em obter o consenso de
todos, sobretudo o da mídia.
Lula envereda pelo mesmo caminho de FHC, responde às críticas na
hora, culpando as elites e os reacionários pelos reparos que sua atuação
desperta. Se continuar assim, repetirá Collor, na base do bateu-levou.
Lembro o exemplo de JK, que todos
os presidentes agora cismaram de
imitar. Ninguém foi mais criticado
durante o seu governo, principalmente em seus projetos mais audaciosos, como a construção de Brasília
(sonho de faraó), a implantação da
indústria automobilística (vendeu a
alma ao capital internacional), a estrada Belém-Brasília, que seu sucessor chamou de "estrada das onças".
Ele ia levando, imitando sem saber
aquele imperador romano que, no
meio de uma tempestade, vendo os
marinheiros com medo, gritou: "Não
tremei! César vai a bordo!".
No seu livro de memórias, JK transferiu o julgamento de suas obras para
a posteridade. Um engenheiro negava a possibilidade de o lago ficar
cheio; e outro dizia que a nova capital não poderia se integrar à telefonia
universal. Para JK, o problema seria
dos descendentes desses engenheiros,
que precisariam explicar a besteira
de seus ancestrais.
Se Lula confia em si mesmo, no Fome Zero, por exemplo, que vá em
frente, sem perder tempo e energia
em acusar os seus críticos de elitistas e
de reacionários. Com isso apenas
procura desclassificar os que não
concordam com ele. Um recurso banal, de óbvia vulgaridade.
Continuo achando o programa em
questão uma pisada na bola. Torço
para que meus descendentes, daqui a
30 anos, reconheçam que tiveram um
ancestral elitista, reacionário e burro.
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