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FIM DA GLOBALIZAÇÃO
A principal vítima econômica
da ofensiva norte-americana
no Iraque pode ser a globalização.
Para os mais pessimistas, o próprio
fracasso da globalização teria sido a
causa dessa ação militar.
Causa ou efeito, a crise da globalização agrava-se tanto política como
economicamente. Na política mundial, as Nações Unidas saem fortemente abaladas. A contrapartida
econômica da derrota do multilateralismo é o aprofundamento das tensões existentes entre os principais
países industrializados.
No curtíssimo prazo, os indícios de
que a guerra será rápida provocaram
reações otimistas nos principais
mercados internacionais. Na última
sexta-feira, os mercados emitiam sinais de revigoramento a cada quilômetro quadrado conquistado pelas
forças dos EUA.
O petróleo, cuja cotação chegou a
beirar os US$ 40 por barril, teve uma
queda surpreendentemente rápida,
aproximando-se dos US$ 25.
Segundo pesquisa on line do "Wall
Street Journal", 85% dos seus leitores
acreditam que a ocupação do Iraque
não vá exigir sequer um mês. Só 3%
dos leitores acreditam que os EUA jamais controlarão o Iraque.
A questão é mais sutil do que parece, pois vai além da ocupação militar.
Os franceses, por exemplo, já no
segundo dia da guerra repudiaram o
controle dos EUA sobre a reconstrução do Iraque. Mas a divisão dos despojos de guerra não é a única frente
de conflito entre as maiores potências industrializadas do planeta.
Na esteira da ruptura do pacto transatlântico, os europeus dificilmente
facilitarão as negociações comerciais
multilaterais. Para o Brasil, a perspectiva de liberalização de mercados
agrícolas tanto nos EUA quanto na
UE torna-se ainda mais remota.
O cenário mais provável, passada a
guerra, é o de ganharem evidência as
dificuldades globais de retomada do
crescimento econômico.
Os preços do petróleo subiram e
caíram muito. Mas dificilmente a
energia mais barata será uma fonte
de dinamismo para um sistema global fraturado em que Japão, UE e
EUA patinham rumo à recessão.
Economistas alertam para a ilusão,
forte na cúpula norte-americana, de
relançar a economia com base na
guerra e no controle das principais
fontes de energia do planeta.
Mas a principal dificuldade econômica talvez resulte de um erro de percepção dessa elite militarista.
Ao combater Estados como o Afeganistão e o Iraque, a máquina de
guerra norte-americana estaria tentando inutilmente combater um inimigo que, a rigor, já não opera com
base em Estados nacionais.
A perspectiva hoje realista de que o
terrorismo internacional vá continuar tão ou mais ativo, apesar da
ocupação norte-americana do Oriente Médio, projeta uma sombra de insegurança que poderá deprimir ainda por muito tempo o sentimento de
consumidores, investidores e mercados financeiros internacionais.
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